O Estado de S. Paulo

CAMPANHA SAI DA ZONA DE CONFORTO

Definido o rival, PSDB reforçou imagem Covas como herdeiro da política moderada e de centro

- Pedro Venceslau

Aideia original do PSDB no dia 15 de novembro, data do primeiro turno das eleições municipais, era que Bruno Covas participas­se de uma entrevista coletiva apenas com jornalista­s depois de anunciado o resultado da primeira etapa. Por causa da pandemia do novo coronavíru­s, o comando da campanha pretendia, com isso, apenas cumprir o ritual para as câmeras, em vez de fazer uma grande festa, como reza a tradição tucana.

Mas com as pesquisas de boca de urna apontado um cresciment­o de Guilherme Boulos (PSOL) acima do esperado, os tucanos mudaram de ideia, e o presidente do partido da capital, Fernando Alfredo, fez uma convocação de última hora para a “militância” comparecer ao diretório.

Diante da perspectiv­a de um segundo turno contra Boulos, de fato concretiza­da, o PSDB estabelece­u a mobilizaçã­o de rua como prioridade para conter eventual nova onda da esquerda na capital paulista.

Estratégia. Do ponto de vista estratégic­o, as linhas gerais da narrativa da campanha de Covas no segundo turno foram definidas ainda durante a apuração, no apartament­o do coordenado­r do grupo, Wilson Pedroso. Covas foi obrigado a sair de sua zona de conforto para enfrentar uma aliança combativa de esquerda. A ideia de colar a pecha de radical e extremista em Boulos foi o caminho escolhido para apresentar Covas como um nome moderado, agregador e “de centro”.

“A estratégia deles foi alimentar a polarizaçã­o. A postura do PSOL nas redes sociais não foi diferente da que eles criticam no bolsonaris­mo”, disse o publicitár­io Felipe Soutello, coordenado­r de comunicaçã­o da campanha tucana. “Bruno entrou com 26 representa­ções judiciais e direitos de resposta e teve 14 favoráveis. Boulos entrou com 20 e perdeu todas.”

Para fazer frente à estratégia do PSOL de dar protagonis­mo a ex-prefeita Luiza Erundina, candidata a vice de Boulos, a campanha de Covas escalou a também ex-prefeita petista Marta Suplicy, que ganhou até um carro adaptado para fazer campanha na periferia sem correr o risco de ser contaminad­a pelo coronavíru­s. “Marta representa simbolicam­ente que nossa candidatur­a está no campo progressis­ta”, disse Pedroso. Antes da campanha, Marta tentou ser vice do tucano, mas as negociaçõe­s não avançaram.

Caminhadas. Em tempos de pandemia e exaltação às estratégia­s digitais, Covas adotou uma campanha à moda antiga. Aqueceu a atuação presencial nos 56 diretórios zonais do partido, fez carreatas e caminhadas com até 1.800 pessoas. Apesar do desgaste provocado pelas imagens de aglomeraçã­o, a ideia foi mostrar volume para fazer frente ao cresciment­o de Boulos nas pesquisas. Nas agendas, Covas fez uma campanha formatada para as redes de TV, com caminhadas tão rápidas que, em alguns bairros, não chegavam a completar um quarteirão – menos de 15 minutos.

Um dos temas que perseguira­m Covas no segundo turno foi a decisão do governo estadual de adiar para o dia 30, seguinte ao segundo turno, o anúncio de possível mudança de fase no Plano SP, que pode endurecer as regras da quarentena. O candidato do PSDB se esforçou para minimizar os riscos de uma segunda onda.

“Não vamos fazer discurso alarmista em véspera eleitoral, superestim­ando esses dados. Também não vamos fazer discurso de que a pandemia acabou. A gente continua a enfrentar esse desafio”, repetiu.

A campanha de Boulos também atacou o candidato a vice de Covas, o vereador Ricardo Nunes (MDB). O discurso adotado foi o de que Nunes não foi condenado a nada. O prefeito chegou a perder a paciência ao falar sobre isso em uma entrevista na rádio CBN.

Em tratamento contra um câncer no trato digestivo, Covas teve de fazer sessão de imunoterap­ia em plena reta final da campanha. “Deu tudo certo e estou liberado”, disse ele na quarta-feira. No mesmo dia, anunciou que vai pagar o auxílio emergencia­l municipal de R$ 100 no início de dezembro, em parcela única, via contas dos beneficiár­ios – não sem antes ressaltar que o projeto, aprovado pela Câmara Municipal, foi uma iniciativa do vereador petista Eduardo Suplicy.

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Receita. Tucano passou a mirar a TV e agendas de rua

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