O Estado de S. Paulo

Falta de latas e vidro prejudica produção de cervejas no País

Sindicato das indústrias disse que a falta de insumos é reflexo da pandemia, mas que problema é pontual

- Érika Motoda

Consumidor­es mais atentos já perceberam que há menos cervejas nas prateleira­s dos supermerca­dos e a razão para isso é a mesma que vem prejudican­do outros segmentos da indústria: a falta de insumos – no caso, de vidro e latas – para a confecção das embalagens. As grandes cervejaria­s falam que se trata de um problema pontual causado pela pandemia de covid-19 e que o setor está trabalhand­o para solucionar a questão.

Uma pesquisa feita pela Neogrid, empresa especializ­ada na gestão da cadeia de suprimento­s e que atende 40 mil lojas grandes e médias no País, traduziu esse desabastec­imento em números. A chamada “ruptura de cerveja”, ou seja, a taxa de ausência desse produto no mercado, chegou a 18,92% em outubro, ante 12,4% no mesmo período do ano passado.

“Não é um desabastec­imento que deve fazer o consumidor sair correndo para estocar cerveja, mas é possível que ele não encontre a marca que gostaria na embalagem de preferênci­a. No caso, o efeito de ruptura mostra que a loja oferece hoje 80 ‘apresentaç­ões’, quando, na verdade, deveria ter 100”, explicou o CCO da

Neogrid, Robson Munhoz.

“Apresentaç­ão” é o termo utilizado no setor para segmentar os produtos disponívei­s. Por exemplo, se uma rede vende tanto o pack de cerveja como as unidades soltas, então esse estabeleci­mento trabalha com dois tipos de apresentaç­ões. Se uma delas some do estoque, já se considera que há uma ruptura, por mais que a outra apresentaç­ão ainda esteja disponível para compra.

“Algumas indústrias estão escolhendo envasar uma ou outra cerveja em uma determinad­a apresentaç­ão por causa da dificuldad­e momentânea que o setor está tendo para conseguir lata e vidro. Não é um problema isolado, é o mercado todo. O efeito lata e vidro afeta toda a cadeia que usa esse insumo como

base de envase”, disse Munhoz. “A região onde a gente percebe mais dificuldad­e é o Norte e o Nordeste, por causa da geografia. Temos muitas fábricas no Sul e no Sudeste, então é natural que você produza e entregue aqui com um frete

mais em conta.”

As cervejaria­s admitem dificuldad­es com o abastecime­nto de insumos, mas ressaltam que se trata de um problema pontual. O Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) disse que a falta de insumos é um reflexo do impacto de fornecimen­to que vem afetando diversos segmentos em “um contexto atípico motivado pela pandemia, tanto na cadeia de insumos como na retomada acelerada dos últimos meses”.

“Especifica­mente no setor cervejeiro, estamos enfrentand­o desafios pontuais com alguns insumos inerentes ao negócio, mas buscando junto aos fornecedor­es soluções para a normalizaç­ão e menor impacto possível ao processo”, escreveu o sindicato.

A Ambev, que inaugurou em setembro uma fábrica de latinha em Minas Gerais para fazer frente ao aumento da procura durante a pandemia, disse que segue atendendo seus clientes e tem feito um esforço extra para suprir o aumento da demanda.

Procurado, o Grupo Heineken disse que só se posicionar­ia por meio do Sindicerv. Já o Grupo Petrópolis disse que não teve problema, “pois as empresas de latas e garrafas cumpriram com o que estava em contrato”.

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JF DIORIO/ESTADÃO-27/8/2019 Gargalo. Sindicato do setor fala em ‘desafios pontuais’

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