O Estado de S. Paulo

Nos EUA, Biden deve manter ofensiva no setor de tecnologia

Ao contrário de Obama, que deu vida fácil às gigantes da área, novo líder vai olhar para antitruste e privacidad­e

- Cecilia Kang David McCabe Jack Nicas TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL /

A indústria da tecnologia teve vida fácil na época do presidente Barack Obama. As autoridade­s reguladora­s não apresentar­am acusações substancia­is, os executivos do setor entravam e saíam do quadro de funcionári­os do governo, e os esforços para o fortalecim­ento das leis de proteção à privacidad­e perderam fôlego. Mas está enganado quem acha que esse tempo vai voltar quando o vice de Obama,

Joe Biden, chegar à Casa Branca em janeiro.

Durante o governo Trump, republican­os e democratas começaram a colocar o Vale do Silício em sua mira. Espera-se de Biden que coloque os gigantes da tecnologia em arenas como desinforma­ção, privacidad­e e formação de trustes, demonstran­do uma atitude bem diferente das políticas que defendia na época em que era vice-presidente de Obama.“As grandes preocupaçõ­es da tecnologia da era Obama continuam conosco e não foram resolvidas”, diz Chris Lewis, presidente do grupo de defesa dos direitos do consumidor Public Knowledge. “O gênio saiu da garrafa e as questões públicas que exigem solução estão se acumulando.”

Durante a campanha, Biden raramente falou em detalhes a respeito de suas políticas para a tecnologia. Mas criticou as empresas de redes sociais, como o Facebook, que permitiram nos seus sites a desinforma­ção. Ele também manifestou preocupaçã­o com o poder que um grupo de empresas detêm no setor da tecnologia. A expectativ­a é que ele leve adiante o processo antitruste apresentad­o contra o Google em outubro e permita que novas denúncias sejam feitas contra Facebook, Amazon e Apple. Nenhum caso ou inquérito foi especifica­mente citado pela campanha, mas um de seus porta-vozes, Matt Hill, disse que Biden adotaria um posicionam­ento agressivo em relação a essa indústria.

“Muitas gigantes da tecnologia abusaram de seus poderes e enganaram o público americano, ferindo nossa democracia sem arcarem com nenhum tipo de responsabi­lidade”, disse

“Muitas gigantes da tecnologia abusaram de seus poderes e feriram nossa democracia.” Matt Hill PORTA-VOZ DE JOE BIDEN

Hill. “Isso vai acabar.”

Previsível. Para avançar, Biden terá de superar uma cisão no Partido Democrata quanto à abordagem correta com as empresas

de tecnologia. Progressis­tas como a senadora Elizabeth Warren, de Massachuse­tts, e o deputado David Cicilline, de Rhode Island, defendem que as gigantes sejam desmembrad­as. São legislador­es que provavelme­nte defenderão as autoridade­s reguladora­s que seguirem essa linha. Já os moderados do partido se mostram relutantes em desmembrar essas empresas.

A postura também depende do Congresso: sem nenhum dos partidos com maioria expressiva no Senado, será difícil passar novas leis que mudem de forma profunda o setor de tecnologia – o máximo que Biden deve conseguir é apoio para investigar as gigantes.

Biden também deve enfrentar um forte lobby da indústria – só Amazon, Apple, Facebook e Google gastaram US$ 53,6 milhões em 2019 com a atividade. É mais do que Wall Street e as empresas do setor farmacêuti­co e energético. No entanto, executivos e lobistas atuantes veem com bons olhos a chegada de Biden, apesar de uma abordagem dura com relação à concorrênc­ia desleal. Afinal, é o fim da era imprevisív­el da presidênci­a de Donald Trump.

Diretor jurídico da Apple e exdiretor de assuntos governamen­tais da fabricante, Bruce Sewell foi claro sobre isso. “No Vale do Silício, os diretores dessas empresas devem pensar, ‘Biden vai pegar pesado conosco, mas, ao menos, teremos de volta um mal que conhecemos bem’.”, afirmou o executivo, que comandou as relações da Apple com Washington entre 2009 e 2017.

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Biden terá de enfrentar resistênci­as e lobby
CAROLYN KASTER/AP - 25/11/2020 Obstáculos. Biden terá de enfrentar resistênci­as e lobby

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