O Estado de S. Paulo

‘A VIDA ACONTECE QUANDO O HUMANO ESTÁ FORA DA CASA’

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Venho aqui sem muitos rodeios e sinuosidad­es desnecessá­rias defender a volta do velho normal, defender milhares e milhares de empregos e o reaquecime­nto da nossa já combalida economia. Como disse James Carville, assessor da campanha de Bill Clinton, em 1992: “É a economia, cachorro estúpido!”. E falo isso com a maior segurança. Pois nós, os gatos, já nascemos pobres.

Antes de arranhar o assunto, preciso avisar que não sou um negacionis­ta da covid-19. Sou racional e cuidadoso nas minhas observaçõe­s. Diferentem­ente daqueles que andam latindo aos quatro ventos que a ciência é isso, a ciência é aquilo, digo com segurança que a ciência já nos deu instrument­os para uma retomada consciente. E qual seriam eles? O básico: máscara, álcool em gel, Whiskas e distanciam­ento. Ao seguir protocolos já incorporad­os ao nosso cotidiano, humanos podem e devem sair da minha casa. Digo, das suas casas.

Fico agressivo quando vejo alguém sem máscara ou usando ela no queixo. Então, não me coloquem no colo de quem nega o vírus. Mas também não quero o afago fácil de quem prega um lockdown irresponsá­vel.

Assim como os da minha laia, a humanidade sempre haverá de encontrar uma fresta na janela para se esgueirar e escapar dos seus próprios apuros. É do alto do telhados que encontrare­mos as melhores soluções.

No mais, eu jamais defenderia algo que colocasse a vida de quem mantém a minha caixa de areia limpa em risco. Minha maior preocupaçã­o é com a nossa saúde mental. Como é difícil se sentir preso quando a vida lá fora continua chamando, não é? O cio da vida é indomável, meus amigos, Vocês, dentro de casa, enlouquece­m e nos enlouquece­m. Levantem do meu sofá. Façam atividades ao ar livre. Me esqueçam um pouquinho. Eu sempre vou aparecer, quando EU quiser.

O home office precisa ser uma solução temporária. Esses computador­es não podem habitar, para sempre, a superfície lisa dessas mesas que costumamos usar como passarelas.

Mas o que mais me arrepia os pelos do bigode é a presença das crianças em casa – o tempo todo! O prejuízo para a formação desses pequenos pode ser irrecuperá­vel. A retomada das aulas é fundamenta­l – e me parece inexplicáv­el que ela ainda não tenha acontecido de forma completa. Larguem meu rabo, parem de me apertar. Essas demonstraç­ões exageradas de carinho não ajudam na formação dos seus filhos. O que ajuda é aula de matemática, de história e a convivênci­a com outros humanos em sala de aula.

Eu não sou cachorro, não. Vocês precisam respirar lá fora. Nós, os gatos, precisamos respirar aqui dentro.

A covid não é uma gripezinha. Mas o engenho humano vai nos presentear não com uma, mas com muitas vacinas. Até o dia “V”, claro, tomem cuidado, mas não deixem nossa economia e a educação dos seus filhos desmoronar. Eu tenho sete vidas; vocês, só uma. Portanto, cuidado! Mas não deixem de vivê-la.

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O Gato

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