O Estado de S. Paulo

Após disputa acirrada, Recife elege João Campos

Aos 27 anos, filho de Eduardo Campos comandará prefeitura; sigla de Lula perde disputa e não terá representa­ntes nas principais cidades

- Paula Reverbel / COLABOROU BIANCA GOMES

O deputado federal João Campos (PSB), que completou 27 anos na sexta-feira, foi eleito prefeito de Recife ontem, ao vencer uma acirrada disputa contra sua prima de segundo grau, a também deputada federal Marília Arraes (PT). Ele obteve 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% recebidos por ela. O índice de abstenção foi de 21,26%, e 9,17% dos votos foram nulos e 3,48% em branco.

Com a derrota de Marília no Recife, e João Coser, em Vitória, o PT amargou o pior resultado em eleições municipais da sua história – o partido sempre elegeu prefeitos em capitais desde 1985, quando os chefes dos Executivos municipais passaram a ser escolhidos de forma direta. A sigla acreditava em uma recuperaçã­o nas eleições deste ano – em 2016, após o impeachmen­t de Dilma Rousseff, o partido tinha eleito apenas Marcus Alexandre, em Rio Branco. Em 2012, a legenda havia conquistad­o quatro capitais, inclusive São Paulo, que neste ano levou PSDB e PSOL ao segundo turno.

No primeiro pronunciam­ento após a divulgação dos resultados, Campos agradeceu eleitores e aliados. “Se faz política olhando o futuro. A razão verdadeira de disputar essa eleição é que a gente pode fazer muito, sim, pela cidade do Recife. A gente tem que dormir um dia acreditand­o que o dia seguinte vai ser melhor. E vai ser melhor”, disse o prefeito eleito, em meio a citações de aliados, como a deputada federal Tabata Amaral (PDTSP) – sua namorada – o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).

O prefeito eleito também lembrou do pai, o ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião quando disputava a eleição presidenci­al, em 2014. “Não tem como vir aqui hoje, celebrar essa vitória, e não fazer homenagem, não lembrar daquele que é referência na minha vida na política, como pessoa, como cidadão, que é o meu pai, Eduardo Campos”, afirmou o prefeito eleito, que venceu sua segunda disputa eleitoral – a primeira foi há dois anos, quando conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados.

Ataques. O parentesco e a origem política comum – ambos são herdeiros políticos dos exgovernad­ores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes – não foram suficiente­s para tornar a campanha mais propositiv­a. A disputa na capital pernambuca­na tem relação direta com o equilíbrio de forças da esquerda para a eleição presidenci­al daqui dois anos. De um lado, Campos liderava a aliança PSB-PDT contra o PT, que contou com o apoio do PSOL.

No segundo turno, Campos adotou um forte discurso antipetist­a, atitude diferente de 2018, quando apoiou Fernando Haddad ainda no primeiro turno da disputa presidenci­al e chegou a participar de agendas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de sua prisão. A estratégia de Campos tinha como objetivo atrair os cerca de 200 mil eleitores antipetist­as que optaram por candidatos da direita.

Já Marília atacou a inexperiên­cia do rival. Segundo ela, se Campos chegasse à Prefeitura de Recife, ele seria um fantoche da mãe, Renata Campos – viúva de Eduardo Campos e aliada de Julio e Câmara. A petista chamou o primo de “frouxo” e sugeriu que ele estava se escondendo atrás de sua vice, Isabella de Roldão (PDT), para criticar propostas petistas.

Ontem, ao agradecer a votação, Campos mudou o tom e, embora não tenha citado sua adversária, pregou união. “Vamos mostrar que se faz política se unindo; que se faz política olhando nos olhos, que se faz política enfrentand­o cada um dos desafios da cidade. A razão verdadeira de disputar a eleição é saber que a gente pode fazer muito ainda pela cidade do Recife”, afirmou, durante entrevista coletiva em um hotel no bairro do Pina, no Recife.

Derrota. Após a totalizaçã­o das urnas, Marília criticou a campanha do seu rival, a quem acusou de espalhar fake news a seu respeito. “Temos a consciênci­a tranquila de que fizemos uma campanha bonita, limpa, diferente do nosso adversário, que iniciou o segundo turno parecendo que era outro candidato, outra pessoa, com uma campanha baseada em agressões, fake news e argumentos fundamenta­listas, inclusive que buscavam trazer a ilusão das pessoas sobre minha imagem, colocando a fé das pessoas no meio”, disse Marília.

“A gente tem que dormir um dia acreditand­o que o dia seguinte vai ser melhor. E vai ser melhor.” João Campos

PREFEITO ELEITO DO RECIFE

 ?? RODRIGO BALTAR/AGÊNCIA PIXEL PRESS ?? Festa. João Campos (PSB) celebra vitória com a deputada Tábata Amaral (à esq.) e sua vice, Isabella de Roldão (PDT)
RODRIGO BALTAR/AGÊNCIA PIXEL PRESS Festa. João Campos (PSB) celebra vitória com a deputada Tábata Amaral (à esq.) e sua vice, Isabella de Roldão (PDT)

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