O Estado de S. Paulo

Encerrada a votação de 2020, os olhos se voltam para 2022 – onde os de Bolsonaro já estão.

- Carlos Melo

Qualquer eleição começa quando são fechadas as urnas da eleição anterior. Encerrada a votação de 2020, os olhos se voltam para 2022 – os de Jair Bolsonaro lá estão, aliás, há mais tempo. Natural que, no sufoco de um ano terrível, se queira enxergar o futuro. E o futuro, sempre incerto, começa a ser especulado desde já.

Em política, dois anos são uma eternidade; nas condições atuais, hiperbolic­amente, são duas. O sistema político ainda se ressente de 2018, quando o eleitor votou para destruí-lo. Abriu-se a Caixa de Pandora, de onde maldições e desgraças ganharam liberdade, ficando confinada apenas a esperança. Será possível reconstrui­r o sistema político e a esperança para 2022?

Vários agentes políticos defendem abstrata ideia de uma “Frente Ampla” para derrotar Bolsonaro. O problema é que todos se projetam sendo “a frente”, deixando aos “outros” a responsabi­lidade de ser “amplo”. A centro-direita busca emparedar Bolsonaro; o centro quer expandir-se para os lados; a esquerda sonha com a “frente progressis­ta”, sem ter clareza do que seria “progressis­ta”, no seu entendimen­to. O certo é que o diabo está nos detalhes; os impasses surgem já na partida.

A eleição municipal poderia ter começado a aglutinar o antibolson­arismo. Isso ocorreu no Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes reuniu forças contra Marcelo Crivella, representa­nte do presidente na terra. Mas, como o bolsonaris­mo esteve ausente da maior parte do segundo turno, foram centro e esquerda que se engalfinha­ram – e se dividiram. No final, isso não foi ruim para o presidente. É irônico, mas sua derrota em 2022 dividiu os adversário­s, o que pode ter-lhe dado fôlego.

Essa é a história da eleição em São Paulo:

deu a lógica. Mas a ausência de Celso Russomanno no segundo turno deslocou o centro para a direita e fez a esquerda mais aguda. Da disputa, não saiu um campo de enfrentame­nto ao bolsonaris­mo, mas dois núcleos que somam zero. Vinte e tantos por cento de votos podem levar Bolsonaro ao segundo turno de 2022, fazendo-o sonhar com adversário de igual tamanho, medindo rejeições e nada mais. O jogo está começando; quem vai jogar?

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