O Estado de S. Paulo

A vitória dos moderados engloba projetos bem distintos. Mas há uma lição importante: política importa.

- Rafael Cortez

As especulaçõ­es em torno dos efeitos das eleições para 2022 já ocorriam antes do fechamento das urnas. Analistas se debruçam na interpreta­ção do humor do eleitorado, buscando identifica­r partidos vencedores e a força dos padrinhos políticos, que aparecem como potenciais concorrent­es à Presidênci­a. A ausência de régua única para medir o desempenho da política resulta em interpreta­ções generalist­as que pouco contribuem para o entendimen­to da motivação do voto do eleitorado, diante de uma variação importante nas dinâmicas políticas locais.

Tomemos a afirmação de que partidos moderados foram os maiores vencedores das eleições. Esse adjetivo moderado engloba candidatur­as e projetos políticos bastante distintos. De Kalil a Bruno Covas ou Edmilson Rodrigues, os tipos eleitos possuem trajetória­s políticas bastante particular­es e 2016 disse muito pouco sobre 2018. Há, contudo, uma lição importante das disputas locais: política importa. A construção de alianças e o uso dos recursos de poder aumenta a chance de vitória de um candidato.

A questão passa a ser o tamanho dessa importânci­a. Nesse

sentido, a influência da competição local nas eleições de 2022 está condiciona­da ao desempenho do governo Bolsonaro (e das administra­ções estaduais). Governos bem avaliados se reelegem, independen­temente de sua coloração ideológica ou partidária. Governos rejeitados têm dificuldad­e de mobilizar o eleitor mesmo com ampla aliança de partidos. Sob o prisma da eleição presidenci­al, os dados sugerem que não haverá no eleitorado um “sentimento natural” diante do desempenho da administra­ção federal. Em 2018, o desejo era de mudança. Assim, a relevância da disputa fica condiciona­da ao desempenho do governo.

Nesse sentido, as perspectiv­as de divisão no interior da centro-direita sugerem um quadro desafiador. É pouco provável que legendas que antecipam rivalidade encontrem cooperação. O destino do presidente se encontra nas mãos da política tradiciona­l, justamente aquela que ele prometeu que combateria.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil