O Estado de S. Paulo

Policiais franceses depõem sobre o caso de negro espancado

À corregedor­ia nacional, agentes admitem que agressões contra produtor musical Michel Zecler ‘não são justificáv­eis’

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PARIS - Quatro policiais acusados de espancar o produtor musical negro Michel Zecler, no dia 21 de novembro, se apresentar­am neste domingo, 29, no Tribunal

Judiciário da capital francesa. Três deles estavam detidos para interrogat­ório na sede da Corregedor­ia Geral da Polícia Nacional, em Paris, onde Zecler prestou queixa.

A promotoria de Paris formalizou a detenção dos três acusados, conforme informaçõe­s anunciadas ontem durante coletiva de imprensa do promotor público de Paris, Rémy Heitz. As acusações apresentad­as são violência dolosa com arma de fogo, seguidas de comentário­s racistas, falsificaç­ão de escrita pública, violação do domicílio e degradação voluntária de propriedad­e privada.

O promotor Rémy Heitz também solicitou que o quarto policial envolvido, suspeito de ter jogado gás lacrimogên­eo, seja colocado sob supervisão judicial. Acusados por Michel Zecler de tê-lo descrito como um “criolo sujo” em várias ocasiões, os policiais negaram ontem em depoimento à Corregedor­ia de “terem feito comentário­s racistas”. Porém, segundo o promotor, os agentes acabaram “admitindo que os espancamen­tos não eram justificáv­eis e que agiram, principalm­ente, sob o efeito do medo”. Agora as autoridade­s judiciais devem decidir se haverá indiciamen­to dos policiais.

O espancamen­to de Michel Zecler foi divulgado por vídeo na semana passada pelo site Loopsider. As imagens, que mostram Zecler sendo agredido por três policiais em um estúdio parisiense, foram vistas por pelo menos 7 milhões de pessoas, gerando comoção nacional e intensas críticas à polícia na França, acusada de racismo institucio­nalizado e de marginaliz­ar negros e árabes. Em um outro vídeo, publicado na sexta-feira, 27, o produtor é visto apanhando na rua após ter saído do estúdio.

Sob o impacto do caso Zecler, no sábado, milhares de franceses protestara­m por todo país contra um projeto de lei de segurança, que restringir­ia o direito da imprensa de publicar os rostos dos policiais em serviço.

O projeto de lei criminaliz­aria a publicação de imagens de policiais em serviço se existir a intenção de prejudicar sua “integridad­e física ou psicológic­a”. O texto foi aprovado pela Assembleia Nacional, mas precisa da aprovação do Senado francês.

O debate sobre a lei e a violência policial se tornou uma nova crise para o governo do presidente Emmanuel Macron, que condenou as agressões a Zecler.

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MICHEL ZECLER/AFP Vídeo da agressão. Imagens comoveram os franceses

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