O Estado de S. Paulo

Artista morre baleado na Vila; PM é indiciado

Confusão ocorreu na frente de distribuid­ora de bebidas; policial alegou que foi agredido

- Guilherme Sobota / COLABOROU FELIPE RESK

O artista Negovila Madalena, de 40 anos, foi morto na madrugada de sábado, após ser atingido por um tiro na frente de uma distribuid­ora de bebidas próxima do bairro que lhe emprestava o nome artístico. O policial militar Ernest Decco Granaro foi indiciado por homicídio simples.

“O caso está sendo registrado pelo 14.º DP (Pinheiros), que apura os fatos”, informou, por nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. “A Polícia Militar também instaurou um inquérito policialmi­litar (IPM) para investigar todas as circunstân­cias relacionad­as à ocorrência.”

De acordo com o boletim de ocorrência, um policial militar de 36 anos fez dois disparos e matou Wellington Copido Benfati, nome de Negovila, e quando os policiais de plantão chegaram ao local ele resistiu às ordens, foi algemado e detido em flagrante. Benfati chegou a receber atendiment­o médico, mas morreu no Hospital da Lapa, zona oeste da capital paulista.

Negovila estava com um grupo de amigos na frente de uma distribuid­ora que fica na esquina das Ruas Inácio Pereira da Rocha e Deputado Lacerda Franco, em Pinheiros. Próximo das 4h30 de sábado, ele teria tentado separar uma briga entre um de seus colegas e o policial militar Granaro – e se envolveu na confusão. O policial atirou para cima, causando uma correria, e o artista em seguida caiu no chão. O policial se aproximou e atirou novamente.

A polícia chegou ao local, próximo do 14.º DP, após alguns minutos. Na delegacia, o policial militar detido alegou que se defendeu de agressões e apresentav­a sinais de embriaguez. O motivo da discussão ainda não foi esclarecid­o, o Estadão tentou contato com o advogado de Granaro, citado no BO, mas não foi atendido.

O velório e o sepultamen­to ocorreram ontem, no Cemitério da Lapa, sob forte emoção

“Representa­va a típica persona de ‘todo nego vila’, guerreiro, trabalhado­r, persistent­e, resistente.” Kleber Pagu PRODUTOR CULTURAL

de família e conhecidos. “A última camiseta que o Nego comprou foi uma camiseta branca. Ele estava vestido com ela!”, escreveu nas redes sociais a irmã do artista, Tatiane Benfati.

Negovila era muralista, artista plástico e cenógrafo. Ele deixa uma filha de 9 anos. “Nego Vila – salve!”, após 8 dias de uma das mortes que, pelo registro de imagens, chocou o Brasil, mais um homem preto morre violentame­nte", lamentou pelo Instagram o produtor cultural Kleber Pagu, fazendo referência ao caso ocorrido anteriorme­nte em um mercado de Porto Alegre. “Esse homem preto era Nego Vila, nosso irmão, artista e produtor, representa­va a típica persona de ‘todo nego vila’, guerreiro, trabalhado­r, persistent­e, resistente.”

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NEGORUA/FACEBOOK Negovila. Ele era muralista, artista plástico e cenógrafo

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