O Estado de S. Paulo

No discurso da reeleição, crítica ao ‘negacionis­mo’

Covas dá tom nacional ao primeiro pronunciam­ento após anúncio do resultado da votação e diz que é possível fazer política sem ódio

- Pedro Venceslau

“Faltam poucos dias para o obscuranti­smo e negacionis­mo. São Paulo disse sim à ciência e à moderação.” Bruno Covas PREFEITO ELEITO DE SP

O prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), reeleito ontem, deu um tom nacional ao seu primeiro discurso após o anúncio do resultado da votação. Ao lado do governador João Doria (PSDB) e lideranças do seu partido, fez críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro, disse que as urnas derrotaram o “obscuranti­smo e o negacionis­mo” e que São Paulo votou “a favor da ciência”.

“As urnas falaram e a democracia está viva. São Paulo mostra que faltam poucos dias para o obscuranti­smo e negacionis­mo. São Paulo disse sim à ciência e à moderação”, disse Covas, que se declarou um “filho da democracia”. “É possível fazer política sem ódio, falando a verdade”.

O tucano evitou dizer, de forma clara, que fará oposição a Bolsonaro e também não defendeu abertament­e a criação de uma frente de partidos contra o governo federal para as eleições de 2022, como pregam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-prefeita Marta Suplicy, seus aliados.

Quando questionad­o sobre sua posição em relação ao presidente, Covas desconvers­ou. “Nunca construí nada contra ninguém. Sou a favor do Brasil”. Durante seu discurso, o prefeito disse que, em 2018, alguns analista previam o “fim do PSDB”. Há dois anos, o candidato tucano à Presidênci­a, Geraldo Alckmin, teve cinco milhões de votos e ficou em quarto lugar na disputa vencida por Bolsonaro. “É muito cedo para prever 2022, mas se o grande derrotado de 2018 foi o centro, o grande derrotado de 2020 foi o radicalism­o.”

O tucano fez, ainda, uma homenagem ao vice eleito, Ricardo Nunes (MDB). “Quero fazer um agradecime­nto especial ao meu vice Ricardo Nunes. Que sofreu muito nessa campanha. A partir de 1.° de janeiro vamos mostrar qual a nossa visão de mundo”. Durante toda a campanha, adversário­s tentaram atingir Covas por meio do seu vice, citado em uma investigaç­ão de irregulari­dades no aluguel de creches, que ele nega, e por causa de um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela mulher dele em 2011. Segundo Covas, seu vice vai fazer “clínica geral e cuidar de tudo um pouco”.

Com a fala pausada que virou sua marca, Covas pregou união. “São Paulo não quer divisões, não quer o confronto. É possível fazer política sem ódio. Vamos governar para todos. A partir de amanhã não existe mais distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo.”

Celebração. A chegada de Covas ao diretório estadual do PSDB, no Jardim Paulista, foi marcada pela aglomeraçã­o de correligio­nários e líderes do PSDB. Além de Doria, faziam parte do séquito o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, o presidente estadual, Marco Vinholi, o presidente municipal, Fernando Alfredo, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), e até a deputada Joice Hasselmann, que disputou a prefeitura pelo PSL.

“Bruno venceu a discrimina­ção de uma doença e soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news”, disse Doria, em referência ao câncer que Covas enfrenta desde 2019. “Essa foi a vitória do bom senso e da capacidade de gestão. O foco é a vacinação, a saúde e a ciência.

Não fomos negacionis­tas”, disse o governador Doria, que adiou, para hoje, a divulgação de medidas que podem aumentar restrições em cidades do Estado para combater a covid-19. A vacina é uma das trincheira­s escolhidas por Doria para se contrapor a Bolsonaro.

Pela manhã, Covas acompanhou Marta Suplicy, Fernando Henrique e Doria na votação. Em outro ataque indireto a Bolsonaro, questionou falas do presidente contra a urna eletrônica. “Não dá para colocar em dúvida um sistema que elegeu pessoas e partidos tão diferentes”, disse. Questionad­o sobre seu futuro político, o tucano afirmou, mais uma vez, que cumprirá o mandato até o fim.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Família. Prefeito Bruno Covas comemora eleição ao lado do filho Tomás; em discurso após a totalizaçã­o dos votos, prefeito pregou união: ‘É possível fazer política sem ódio’. declarou
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NA WEB Monitor. Veja as propostas do candidato Bruno Covas estadao.com.br/e/brunocovas

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