O Estado de S. Paulo

PSDB segue líder; DEM cresce e PT estaciona

Tucanos governarão maior fatia do eleitorado e legenda petista permanece encolhida: 3%

- Daniel Bramatti Samuel Lima ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Prefeitos do PSDB devem governar cerca de 17% dos eleitores do País a partir de 2021. O partido se manteve no primeiro lugar nesse ranking, mas perdeu poder desde a eleição anterior, quando sua fatia do eleitorado chegou a 24%. Os tucanos também encolheram no número de prefeitos eleitos, de 805 há quatro anos para 533 agora. Mas mantiveram São Paulo, a prefeitura mais importante do País em população, orçamento e projeção política.

Em número de prefeitos vitoriosos, o MDB ficou em primeiro lugar, com 803. Mas o partido segue em declínio, se o atual resultado for comparado com os de disputas anteriores. Em 2008, 2012 e 2016, a legenda, antigo PMDB, ganhou em 1.204, 1.038 e 1.048 cidades, respectiva­mente. No mesmo período, a cota de eleitores governados de 22%, 16% e 15%. Agora, caiu novamente, para 13%.

Apesar do recuo, o MDB conseguiu eleger prefeitos em cinco capitais neste ano: Porto Alegre, Goiânia, Boa Vista, Cuiabá e Teresina.

Estagnado. O PT, principal rival dos tucanos até recentemen­te, encolheu no número de prefeitos eleitos, mas conquistou cidades maiores e, com isso, manteve a parcela de eleitores que vai governar: 3%, o mesmo resultado obtido em 2016. Petistas conquistar­am quatro das cidades que fazem parte do “clube do segundo turno” – as que têm mais de 200 mil eleitores. Mas, ontem, foram derrotados em Vitória e Recife. Com isso, não governarão nenhuma capital (mais informaçõe­s na pág. 10).

É a segunda eleição municipal consecutiv­a em que petistas apresentam fraco desempenho. Em 2012, o partido chegou a ficar em primeiro lugar no ranking de eleitorado governado por prefeitura­s, com pouco mais de 19%. Na eleição seguinte, a primeira após o impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff (PT), a fatia do eleitorado governado por petistas teve uma redução de quase 85%.

Conquistas. Três partidos de centro-direita tiveram avanços no tabuleiro político municipal: DEM, PSD e PP. Juntos, eles vão governar quase um terço dos eleitores brasileiro­s (32%). Em 2016, as prefeitura­s conquistad­as pelos três englobavam apenas 17% do eleitorado.

O maior cresciment­o foi registrado no DEM, partido que já se chamou PFL e que tem em suas raízes a Arena, agremiação de sustentaçã­o do regime militar. Em 2016, o DEM elegeu 277 prefeitos. Agora, saltou para 476. Em porcentage­m de eleitores nos municípios governados, o aumento foi de 5,5% para quase 12%. No mapa das capitais, o DEM venceu no Rio de Janeiro e em Salvador e ainda reelegeu prefeitos nas capitais Curitiba e Florianópo­lis. Já PP e PSD ganharam em Belo Horizonte, Campo Grande, João Pessoa e Rio Branco.

Finalista do segundo turno em São Paulo, o PSOL elegeu apenas cinco prefeitos neste ano, entre eles o de Belém. No total, o partido vai governar 0,7% dos eleitores brasileiro­s.

Modesto. O PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu, e que conquistou a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados em 2018, teve cresciment­o modesto nessa eleição. De 30 prefeitos em 2016, passou para 92 agora. Mas sua fatia no eleitorado nacional será de apenas 1,3%.

• Balanço O MDB foi o partido que mais venceu disputas de segundo turno das eleições municipais deste ano: dez no total. O PSDB ficou em segundo lugar, com oito. Eleitores de 57 cidades brasileira­s foram às urnas.

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da FGVSP, o bloco dos ganhadores nesta eleição é formado pelos “partidos de adesão”, que compõem o chamado Centrão, e o DEM, que ampliou em cerca de 70% o número de prefeitura­s. Já a fila dos maiores perdedores é puxada pelo presidente da República. “Bolsonaro não teve partido para disputar a eleição e perdeu a oportunida­de de fortalecer uma estrutura que poderia ser útil para 2022”, afirmou. “O Centrão ninguém compra, só aluga. Não dá para imaginar que esses partidos darão a vida pelo governo.”

Para Couto, a esquerda também sofreu nestas eleições, principalm­ente o PT. “Ela diminuiu ainda mais do que em 2016, quando já tinha tomado um grande tombo. O PT foi praticamen­te expulso dos grandes centros, com exceção de algumas cidades. E ainda comprou brigas que podem ser caras no futuro, como contra o PSB, no Recife.”

O cientista político da USP José Álvaro Moisés também aponta Bolsonaro como o principal derrotado nestas eleições. Mas faz a ressalva de que um de seus principais adversário­s – o governador de São Paulo, João Doria – também não saiu tão vitorioso assim com a reeleição de Bruno Covas na capital paulista, pois o prefeito adotou uma postura de distanciam­ento em relação ao colega de partido ao longo da campanha.

Moisés destaca ainda que a esquerda tradiciona­l, representa­da pelo PT, não conseguiu se recuperar nos municípios. “Para além disso, temos a emergência de uma nova esquerda, mais jovem e vigorosa e com um posicionam­ento diferente”, afirma ele, citando disputas de PSOL, PSB e PCDOB nas capitais. “O grande desafio é se ela será capaz de dialogar e compor uma frente com o setor moderado para derrotar Bolsonaro em 2022.”

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