O Estado de S. Paulo

Recomeço e novos desafios

- Ricardo Ismael ✽ É CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DA PUC-RIO

Oex-prefeito Eduardo Paes (DEM) vence a disputa para a prefeitura do Rio depois de ter liderado com folga todo o primeiro turno e administra­do vantagem confortáve­l na rodada final, quando enfrentou Marcelo Crivella (Republican­os), atual chefe do Executivo. Aliás, adversário da preferênci­a de Paes, em razão da elevada rejeição do oponente, e pela possibilid­ade de tornar a eleição uma comparação entre duas gestões municipais.

No plano nacional, o candidato vitorioso contribui para colocar seu partido no jogo político da eleição presidenci­al de 2022. Naturalmen­te sem perder de vista a reconfigur­ação do campo político estadual, em aberto com a possibilid­ade de impeachmen­t do governador Wilson Witzel (PSC).

São grandes os desafios de Paes. No próximo ano ele não vai encontrar os robustos investimen­tos federais na cidade, que acontecera­m por ocasião da Olimpíada de 2016. Ao contrário, terá de enfrentar uma crise econômica derivada da pandemia, que afetou o turismo, a economia da cultura, o comércio e outros serviços urbanos. No plano político, será um recomeço. Desafio será deixar para trás os problemas dos tempos do MDB, sobretudo aqueles que o ligavam ao grupo do ex-governador Sérgio Cabral.

Marcelo Crivella, mesmo derrotado, representa segmentos sociais na capital e no Estado. Será um ator político relevante nas próximas eleições nacionais.

A onda bolsonaris­ta de 2018 não se repetiu na eleição para prefeito e para a Câmara de Vereadores do Rio. Como atenuante se poderia dizer que a natureza do pleito municipal é diferente, que predominou a avaliação do governo Crivella. Mesmo assim, as notícias não são boas para Jair Bolsonaro. A vitória do DEM fortalece o projeto de Rodrigo Maia, ainda incerto, mas diferente daquele do presidente. Além disso, se o eleitor carioca voltou a valorizar o centro político, ele também prestigiou as forças políticas de centro-esquerda, como mostram as votações de Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) no primeiro turno. Tudo isso parece indicar dificuldad­es para Bolsonaro no seu domicílio eleitoral com vistas ao próximo ciclo eleitoral.

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