Resultado em SP reforça ‘guinada’ de Doria ao centro
Governador faz movimento de alinhamento a espaço já ocupado por Covas e diz que reeleição é um ‘resgate’ do PSDB no plano nacional
A vitória de Bruno Covas (PSDB) representa o cumprimento de uma das etapas no projeto presidencial para 2022 do governador João Doria (PSDB). Mas o resultado ascendeu o prefeito, voz moderada no partido, a um posto de liderança nacional, o que tornou mais aguda a necessidade de o governador modular o discurso em direção ao centro para manter-se rumo a Brasília.
Doria indica migrar para um espaço que Covas já ocupa. Ao falar com jornalistas após votar, ontem, ele citou três vezes a palavra “democracia” e disse que a reeleição era “um resgate” do partido no plano nacional. Ao Estadão, na semana passada, defendeu diálogos com a “centroesquerda”. É um discurso diferente da oposição inegociável ao PT apresentado na eleição de 2018, quando ele defendia o slogan “Bolsodoria” e tentou uma aproximação de Jair Bolsonaro.
Mas Covas, que já se apresenta como um político de centro, obteve o resultado de ontem com uma estratégia que deixou Doria de fora da propaganda eleitoral. Durante a campanha, o prefeito manteve a cordialidade com o adversário. Ele defendeu “a responsabilidade fiscal com justiça social” e, internamente, no PSDB, prestigiou tucanos que haviam perdido força após março de 2019, quando Bruno Araújo, candidato de Doria, foi eleito presidente da legenda.
A eleição “tem sentido de uma vitória porque Doria é o governador e o Bruno Covas foi seu viceprefeito”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Mas Covas é um perfil que aponta para a recuperação da identidade social-democrata do partido e, nesse sentido, não se pode dizer que é uma vitória acachapante do João Doria.”
Hegemonia. O movimento ao centro é visto como vital para viabilizar uma candidatura hegemônica contra o bolsonarismo. Nesse sentido, o governador buscou diálogos com nomes como o governador do Maranhão (Flávio Dino, do PCDOB) e da Bahia (Rui Costa, do PT). Mas a própria candidatura já não é certa. “O quadro que estava de uma cor só ficou mais colorido”, disse Moisés, sobre a possibilidade de outros nomes surgirem. “O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por exemplo, tem sido mencionado como alternativa. Só o fato de aparecerem alternativas indica que a coisa não está definida”, completa Moisés.
A cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) ressalta que Doria terá também de renegociar os acordos com partidos aliados como DEM e MDB, que também saíram vitoriosos. “Poderia haver um racha aí se Doria não aceitar uma chapa que esteja de acordo com ele. Doria pode ser até um problema para o PSDB”, afirmou Maria, uma vez que o partido busca a volta à Presidência.
Um sinal da viabilidade ou não de uma aliança de centro, avalia a professora, deve ser dado na eleição do Congresso, em que o Centrão bolsonarista disputará a presidência das casas.
“Sinal da viabilidade de uma aliança de centro deve ser dado na eleição do Congresso, em que o centrão bolsonarista disputará a presidência.”
Maria do Socorro Braga UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS