O Estado de S. Paulo

Bolsonaro acumula novas derrotas no 2º turno das eleições

Dos 16 candidatos a prefeito apoiados pelo presidente, 12 perderam as disputas, entre eles Marcelo Crivella, no Rio

- Tânia Monteiro COLABORARA­M MÁRCIO DOLZAN e IDIANA TOMAZELLI

O presidente Jair Bolsonaro sofreu importante derrota nas eleições municipais deste ano. Dos 16 candidatos a prefeito apoiados por ele, 12 perderam as disputas. Aliado de Bolsonaro, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republican­os), não conseguiu se reeleger ontem, sendo ultrapassa­do por Eduardo Paes (DEM).

Em São Paulo, o deputado Celso Russomanno (Republican­os), não passou do primeiro turno. No Palácio do Planalto, porém, auxiliares do presidente minimizara­m o revés político, sob o argumento de que o chefe do Executivo não participou diretament­e das campanhas.

Nesse segundo turno, Bolsonaro viu apenas Tião Bocalom (PP), em Rio Branco (AC), e Roberto Naves (PP), em Anápolis (GO) serem eleitos. Outros candidatos para os quais ele pediu votos não tiveram bom desempenho nas urnas. Também apadrinhad­os pelo presidente, Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza, e Delegado Eguchi (Patriota), em Belém, foram derrotados.

Em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) perdeu ainda na primeira rodada, a exemplo de Russomanno. Naquela etapa da campanha, o apoio de Bolsonaro surtiu efeito apenas em Ipatinga (MG), com a eleição de Gustavo Nunes (PSL), e em Parnaíba (PI), com Mão Santa (DEM).

Na avaliação de assessores do presidente, a participaç­ão dele se resumiu a indicar votos, atendendo a pedido de aliados. O Planalto cita a derrota de ontem do PT em todas as capitais que disputava como exemplo de que a esquerda foi a grande perdedora destas eleições.

Para esses interlocut­ores, o resultado eleitoral também mostrou que foi acertada a decisão do presidente de se aproximar do Centrão, grupo político que aumentará o número de prefeitura­s sob seu comando a partir de 2021.

Voto impresso. Bolsonaro criticou ontem duramente as urnas eletrônica­s, insinuou que o atual sistema não é confiável e defendeu a apuração pública dos votos. “Eu, como presidente da República, quero voto impresso já”, afirmou ele. O presidente também disse ter informaçõe­s de que houve fraude na eleição nos Estados Unidos, onde Joe Bide derrotou o presidente Donald Trump. Lá, o voto é impresso.

Logo após votar, na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona Oeste do Rio, Bolsonaro disse estar conversand­o com líderes da Câmara e do Senado sobre a necessidad­e de retorno do voto impresso. Para ele, as mudanças dependem somente de um acordo entre o Executivo e o Legislativ­o.

“Eu ganhei em 2018 só porque tinha muito, mas muito mais votos. Tinha reclamaçõe­s de que o cara queria votar no 17 (número do PSL, que à época era seu partido) e não conseguia. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteraçã­o”, afirmou o presidente, que sempre disse ter vencido aquela disputa contra Fernando Haddad no primeiro turno. “E digo mais: a apuração tem de ser pública, e não feita por meia dúzia de pessoas. O TSE tem a obrigação de entregar os boletos de urna.”

Bolsonaro chegou a ironizar a ideia do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de liberar o voto por smartphone­s no futuro. “Alguns falam em voto por telefone. Tem gente que nunca entrou na casa dos mais humildes”, disse.

Barroso afirmou ontem que a Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) considera o Brasil como dono do “mais ágil e seguro sistema de apuração das Américas”. “Só posso explicar (funcioname­nto de urnas eletrônica­s) para quem quer entender. Para quem não quer entender, não há fármaco jurídico possível”, disse o ministro ao comemorar a apuração sem grandes incidentes no segundo turno. “O presidente da República tem liberdade para exprimir sua opinião. Sou juiz, não posso me impression­ar com retórica política. Respeitand­o a opinião do presidente, penso que voto impresso traria grande tumulto a processo eleitoral.”

Segundo Barroso, se fosse assim todo candidato derrotado pediria recontagem, nulidade e haveria judicializ­ação. “Agora, se o presidente tiver qualquer evidência, vamos investigar”, disse ele. “Não tenho controle sobre imaginário nas eleições. Tem gente que acha que a terra é plana, tem gente que acha que Trump venceu nos Estados Unidos”.

Ao citar a disputa para a Casa Branca, Bolsonaro ignorou o fato de a eleição nos Estados Unidos ser por voto impresso e disse que vai aguardar para reconhecer a vitória de Biden. “Tenho minhas fontes (que dizem) que realmente teve muita fraude lá. Isso ninguém discute. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei”, declarou.

Máscara. Acompanhad­o por seguranças, Bolsonaro votou ao lado do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) e tirou selfies com apoiadores. Ao sair da seção, tirou a máscara de proteção contra o coronavíru­s. Ao demonstrar preocupaçã­o com novas medidas para fechamento do comércio, o presidente negou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha perdido sua confiança. “Paulo Guedes é 98% da economia”, disse Bolsonaro. “Eu era 1% e passei para 2%. É igual saltar de paraquedas: o cara (fica) te orientando atrás e você tem que ter confiança nele.” /

“Eu, como presidente, quero voto impresso já.”

Jair Bolsonaro PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“Para quem não quer entender, não há fármaco jurídico possível.”

Luís Roberto Barroso PRESIDENTE DO TSE

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