O Estado de S. Paulo

Embate na presidênci­a da Câmara

- Marcelo de Moraes ✽ EDITOR DO BRPOLÍTICO

Com o término das eleições municipais, os grupos políticos interessad­os em formar uma frente ampla para evitar a reeleição de Jair Bolsonaro vão se concentrar no seu primeiro objetivo para enfraquece­r o adversário. Querem impedir a eleição para a Presidênci­a da Câmara, em fevereiro, de qualquer candidato que tenha ligação política com Bolsonaro, como o líder do Progressis­tas e expoente do Centrão, deputado Arthur Lira (AL). Com isso, agem para não deixar que Bolsonaro tenha o poder de controlar a agenda de votações da Câmara, justamente no biênio antes da eleição presidenci­al.

A construção dessa missão deve ajudar a frente a começar a ganhar um formato mais visível. Na prática, hoje ela representa mais uma vontade do que um acordo fechado e existe ainda um desconfort­o sobre os perfis de quem pode ou não participar da aliança. Lideranças de esquerda vetam, por exemplo, o ex-ministro Sérgio Moro. Mas a própria disputa municipal ajudou o movimento a avançar alguns passos importante­s. PSDB, DEM e MDB já se aliaram em muitas cidades brasileira­s, incluindo São Paulo, a maior do País. PDT e PSB também se alinharam em muitas disputas. E esses cinco partidos defendem o projeto da frente. Mas há também o claro interesse de Cidadania, Solidaried­ade, Rede e PV, entre outros, de participar do movimento.

Como ninguém ainda foi escolhido, as opções se amontoam como possibilid­ades para compor uma eventual futura chapa, como Luciano Huck, João Doria, Ciro Gomes, Flávio Dino, Rodrigo Maia, Marina Silva e Simone Tebet, entre outros. Mas o grupo já entendeu que ainda há tempo suficiente para resolver essa questão.

O que não dispõe de tempo e precisa ser resolvida imediatame­nte é a disputa pelo comando no Congresso. No Senado, tudo caminha para a recondução de Davi Alcolumbre (DEM-AP), que aguarda apenas o sinal verde do Supremo Tribunal Federal (STF) para receber o aval legal para concorrer a mais um mandato. O grupo avalia que Alcolumbre flerta com o governo apenas circunstan­cialmente, o que não chega a ser um problema.

Já na Câmara, a situação é diferente e Arthur Lira representa a ala bolsonaris­ta. Por isso, a importânci­a de preservar o posto afastado do Planalto. Rodrigo Maia sonha em permanecer na Presidênci­a ou em eleger algum de seus aliados. Assim, tem aproveitad­o as conversas sobre a formação da frente para montar um bloco capaz de derrotar as pretensões do bolsonaris­mo e do próprio Lira.

Só que o deputado do PP também se move e conta com a ajuda de Bolsonaro e de sua caneta, ainda cheia de tinta, para atrair apoios e vencer a disputa. O fato é que a batalha pelo controle do Congresso acabou se tornando um fator estratégic­o no processo da eleição presidenci­al de 2022.

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