‘Eu investi nas ações do Magazine Luiza no IPO’
A jornada de uma investidora que viu o valor da varejista aumentar 700 vezes em cinco anos
A ação do Magazine Luiza ocupa o imaginário dos investidores da bolsa de valores. Não há quem não pense na riqueza que teria alcançado caso tivesse comprado o papel MGLU3 em vez de usar o dinheiro em algum gasto supérfluo. Nos últimos cinco anos, o valor de mercado da rede varejista aumentou 700 vezes (a empresa vale, hoje, R$ 157,2 bilhões). O problema é que o investidor tem pressa. E essa impaciência leva à venda do ativo antes daquilo que os especialistas chamam de maturidade, ou seja, que a estratégia dos executivos gerem os resultados nos negócios que vão se refletir no valor da ação.
É praticamente consenso que, tirando os grandes investidores, como gestores de fundos de investimento, não parece haver ninguém que tenha acreditado na tese de Luiza Helena Trajano sobre o futuro da rede varejista no fim de abril de 2011, quando o Magalu concluiu a sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na bolsa de valores. Até que o E-investidor recebeu o e-mail de uma leitora: “Eu comprei ações do Magazine Luiza na estreia na bolsa”.
Uma mensagem como essa é poderosa. Ela reforça a importância de tudo aquilo que os educadores financeiros falam sobre o processo de investir bem: ninguém consegue multiplicar o dinheiro do dia para a noite e é preciso acreditar no longo prazo para que os juros compostos trabalhem a seu favor. Mas será que essa pessoa, que está há quase 10 anos com as ações do Magazine Luiza na carteira, não esqueceu de vender?
“Eu não conjugo o verbo vender. Claro, Paranapanema, Telebrás e outras ações eu me desfiz. Mas invisto para o longo prazo”, diz Laís Salles Freire, 69 anos, advogada aposentada e investidora ativista. “O Magalu eu comprei porque a dona e presidente, na ocasião, era uma mulher. Simples assim.”
Laís Freire adquiriu 446 ações do Magazine Luiza no IPO, uma quantidade que foi aumentando ao longo dos anos. De acordo com levantamento da Economática, quem investiu R$ 1 no início da negociação das ações da empresa na bolsa teria R$ 5.155,52 até a quinta-feira, 26, considerando o reinvestimento de todos os proventos, em comparação a R$ 66,68 se tivesse escolhido o Ibovespa e R$ 129,78, o CDI.
“É cada vez mais raro encontrar investidores que entram num projeto e continuam parceiros da empresa para usufruir dos resultados no longo prazo”, diz a economista Louise Barsi, criadora do Ações Garantem o Futuro e filha de Luiz Barsi, o mais bem-sucedido investidor individual no Brasil. “Independentemente da estratégia que a pessoa siga, os grandes ganhos sempre ficam no tempo de espera e não na troca de papéis e na especulação.”
Essa determinação da investidora chama a atenção porque o comportamento das ações do Magalu não foi de alta nos primeiros anos em que o papel esteve em circulação no mercado. Entre abril de 2011 e dezembro de 2015, o MGLU3 acumulou uma perda de 93,52%. Sim, parece impossível pensar que o Magalu quase virou pó antes de acumular a impressionante valorização de 81.030% entre 14 dezembro de 2015 e 26 de novembro de 2020.
“Passamos seis meses namorando a empresa, fomos várias vezes lá e o que os executivos falavam para nós, acontecia”, diz Henrique Bredda, sócio da Alaska Asset Management, a gestora que, em dezembro de 2015, adquiriu cerca de 12% da Magalu por R$ 20 milhões. “Mas é difícil ver a ação se valorizar 100%, 200% e não vender. A ação subia, fazíamos contas e a expectativa mudava.”
Laís não fez contas como os gestores da Alaska, mas se identificou com Luiza Trajano. Essa tese a investidora segue desde meados dos anos 1990, quando ingressou na bolsa de valores. Suas primeiras ações foram da Petrobrás e da então Vale do Rio Doce. Da mineradora, recebeu debêntures no processo de privatização que ainda não resgatou e continuam custodiadas no Bradesco. Recentemente, entrou em contato com a Comissão de Valores Mobiliários para falar sobre a possibilidade de receber esses títulos. Para ela, tudo o que puder render não deve ser mexido. “A lição é que disciplina e paciência compensam no longo prazo”, afirma Louise.
A carteira de ações de Laís é diversificada. Ela conta que outras duas apostas antigas são a empresa de vestuário Hering, que ela conheceu porque os donos eram próximos à família, e a companhia de cosméticos Natura, porque gosta e consome os produtos da marca. “Peço para o meu corretor reinvestir os dividendos na mesma empresa. Se colocar na minha conta corrente, eu gasto.”
Mas a história dela não se resume apenas a ações de sucesso. Neste ano, decidiu comprar papéis da locadora de carros Movida e do ressegurador IRB. “Não gostei de nenhuma”, diz Laís, que, agora, está de olho no IPO da Rede D’OR São Luiz.