O Estado de S. Paulo

A tentação da flexibiliz­ação do teto de gastos

- •✽ THIAGO DE ARAGÃO É DIRETOR DE ESTRATÉGIA DA ARKO ADVICE E COLUNISTA DO E-INVESTIDOR

Oteto de gastos volta a ser uma preocupaçã­o crescente entre investidor­es brasileiro­s e estrangeir­os. A essa preocupaçã­o somam-se outras, gerando um cenário de acúmulo de problemas. Alívios que poderiam surgir, algo como a aceleração no processo de privatizaç­ões, não acontecem e tornam-se narrativas folclórica­s à medida que o tempo passa e nada ocorre.

Por mais que o presidente Jair Bolsonaro afirme que o teto de gastos é um tema no qual ele não mexerá, ele sabe que os auxílios emergencia­is distribuíd­os durante a pandemia tiveram um impacto relevante na sua popularida­de, principalm­ente em regiões do Brasil nas quais o seu desempenho nunca foi bom. Ao mesmo tempo, a fragilidad­e das estratégia­s voltadas para privatizaç­ões faz com que os gastos do governo com várias estatais (projetos emergencia­is até que privatizaç­ões ocorram) não cessem, significan­do um grande peso no equilíbrio fiscal. Dentro do otimismo inicial de 2019, esse peso era visto como algo que cessaria tão logo o processo de privatizaç­ão fosse desencadea­do.

Entretanto, a própria lógica das privatizaç­ões foi prejudicad­a quando o “centrão” entrou para a base aliada. Se antes o problema era a construção de uma estratégia viável de privatizaç­ões, hoje podemos notar o ceticismo no olhar das de algumas lideranças de partido denotando que não enxergam mais as possibilid­ades de privatizaç­ões que recairiam sobre determinad­os alvos. O próprio “centrão”, não como bloco, mas pela voz de vários e importante­s indivíduos, vê na flexibilid­ade do teto uma possibilid­ade de turbinar investimen­tos estatais e acelerar uma recuperaçã­o econômica. Note-se porém que isso é exatamente o contrário de tudo que Paulo Guedes e a equipe econômica acreditam.

Assim, o teto de gastos é um bastião de confiança num mar de frustraçõe­s. A credibilid­ade fiscal depende desse bastião. Em dezembro se define se teremos auxílio emergencia­l prorrogado ou um Bolsa Família ampliado. Até aí, tudo bem. Qualquer solução que respeite o teto não traria dificuldad­es de aprovação no Congresso. O problema é que a ideia de “auxílio emergencia­l” mais “Bolsa Família turbinada” não tem tração quando não se tem uma ideia clara de onde puxar dinheiro. Como a credibilid­ade fiscal e, consequent­emente, a do próprio Ministério da Economia está em jogo, a solução dada precisa ser crível e coerente.

O ponto de inflexão e intenso debateentr­e planalto e ministério da Economia paira em torno do Programa Renda cidadã.ele funcionari­a como um bolsa família turbinado em 20% a30%.Op roble maé de onde sairia o complement­o financeiro necessário para essa “turbinada”. Uma das ideias seria cortes em renúncias fiscais. Isso certamente abriria um valor consideráv­el para complement­ar o Renda Cidadã, mas poderia afastar uma parcela importante de apoio de setores privados que se ancoram nessas renúncias fiscais. Novamente, o cobertor está curto.

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