O Estado de S. Paulo

Um novo e positivo cenário

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Ao rechaçar extremismo­s ideológico­s e optar por candidatur­as de centro, o eleitor deu uma eloquente manifestaç­ão de confiança na política.

Oresultado das eleições de 2020 sinaliza uma mudança significat­iva do eleitorado em relação às escolhas feitas em 2018. Ao rechaçar extremismo­s ideológico­s e optar por candidatur­as de centro, o eleitor deu uma eloquente manifestaç­ão de confiança na política. Naturalmen­te, é ainda muito cedo para traçar prognóstic­os para o cenário eleitoral de 2022 ou para listar os principais candidatos da próxima disputa presidenci­al. A importânci­a do pleito de 2020 não reside em suas eventuais consequênc­ias sobre as eleições de 2022. Tanto no primeiro turno como no segundo, o que se destacou – e é extremamen­te positivo para a democracia – foi a maturidade do eleitor.

O resultado das eleições de 2020 revela, de forma contundent­e, um eleitor capaz de repensar escolhas políticas feitas em um passado recente, em especial, as propostas do bolsonaris­mo e as do lulopetism­o. O eleitorado mostrou-se inclinado a superar a visão da política como terra arrasada pela corrupção, que, de tão difundida por integrante­s da Lava Jato, chegou a ganhar nome correspond­ente: o lavajatism­o.

Aos que anunciaram, depois das eleições de 2018, a morte da chamada política tradiciona­l, o pleito deste ano mostrou que velhos partidos políticos podem ainda ter especial força e representa­ção. Quando são capazes de apresentar candidatos e propostas consistent­es, legendas há muito conhecidas continuam tendo apelo entre os eleitores. Basta ver que os cinco maiores partidos, em porcentual do eleitorado governado por seus prefeitos, foram PSDB, MDB, DEM, PSD e Progressis­tas (ex-pp).

O PSDB elegeu 533 prefeitos, que governarão cerca de 17% do eleitorado a partir de 2021. Em seguida está o MDB, cujos prefeitos eleitos governarão cerca de 13% da população. Além de ser campeã em número de prefeitura­s conquistad­as (803 ao todo), a legenda conquistou neste ano cinco capitais: Porto Alegre, Goiânia, Teresina, Boa Vista e Cuiabá.

Outro destaque das eleições de 2020 foi o DEM, partido com maior cresciment­o em número de prefeitos eleitos. Em 2016, conquistou 277 prefeitura­s. Agora, foram 476, a representa­r cerca de 12% do eleitorado. A principal vitória do antigo PFL ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. No segundo turno, o ex-prefeito Eduardo Paes ganhou do prefeito Marcelo Crivella, que tentava a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro. O DEM ganhou ainda as prefeitura­s de Salvador, Curitiba e Florianópo­lis.

O PSD e Progressis­tas também cresceram nas eleições deste ano. Junto ao DEM, os três partidos devem governar quase um terço do eleitorado (32%). Em 2016, as prefeitura­s conquistad­as pelas três legendas representa­vam cerca de 17% do eleitorado.

Esses resultados contrastam com os números do bolsonaris­mo e do lulopetism­o. Ao longo da campanha eleitoral, o presidente Bolsonaro pediu voto para 16 candidatos a prefeito. Apenas quatro se elegeram – Tião Bocalom em Rio Branco (AC), Roberto Naves em Anápolis (GO), Gustavo Nunes em Ipatinga (MG) e Mão Santa em Parnaíba (PI). O PSL elegeu 92 prefeitos (1,3% do eleitorado).

Além da rejeição ao bolsonaris­mo, houve também o inédito sumiço do PT na gestão das capitais. A partir do ano que vem, nenhuma das 27 capitais do País será governada por um prefeito petista, fato que nunca tinha ocorrido desde a redemocrat­ização. Nos próximos quatro anos, os prefeitos eleitos do PT deverão governar cerca de 3% do eleitorado. Trata-se de uma situação muito diferente da que se viu anos atrás. Nas eleições de 2012, por exemplo, o partido de Lula foi o campeão no ranking de prefeitos por porcentual de eleitorado, com mais de 19%.

As eleições de 2020 confirmam, assim, que para superar um extremismo ideológico não é preciso inventar outro extremo. Não é necessário o bolsonaris­mo para vencer o lulopetism­o ou vice-versa. A política pode e deve oferecer outras soluções, mais viáveis e mais responsáve­is. E, como se viu nos resultados dos dois turnos, o eleitor está atento a essas outras opções. Há amplo espaço para a política.

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