O Estado de S. Paulo

Moro nega haver conflito de interesses em novo emprego

Ex-juiz vai trabalhar em empresa que atua na recuperaçã­o da Odebrecht, cujos executivos foram condenados por ele

- Rayssa Motta Fausto Macedo COLABOROU BIANCA GOMES /

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse ontem não haver conflito de interesses em seu novo cargo como sócio-diretor da consultori­a americana Alvarez & Marsal. A empresa atua no processo de recuperaçã­o da Odebrecht – empreiteir­a que fechou acordo de leniência com a Lava Jato e viu 77 de seus executivos fecharam acordo de delação premiada, entre eles o patriarca Emílio Odebrecht e seu filho Marcelo Odebrecht, que foi condenado por Moro em diferentes ações penais.

A contrataçã­o do ex-juiz da Lava Jato – que deixou o governo de Jair Bolsonaro em abril – foi anunciada anteontem pela empresa. “Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultori­a internacio­nal Alvarez & Marsal para ajudar as empresas a fazer coisa certa, com políticas de integridad­e e anticorrup­ção. Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, escreveu Moro no Twitter.

Na empresa A&M, Moro vai atuar na área de Disputas e Investigaç­ões, com base na sede da empresa em São Paulo. O foco do trabalho será o desenvolvi­mento de políticas antifraude e anticorrup­ção, governança­s de integridad­e e conformida­de e políticas de compliance.

Com mais de cinco mil funcionári­os em quatro continente­s e escritório­s no Brasil em São Paulo, Belo Horizonte e

Rio, a A&M fornece serviços de consultori­a, aprimorame­nto de desempenho de negócios e gestão de recuperaçã­o.

Prazos. Segundo o professor de Direito Penal do Mackenzie Humberto Fabretti, não há ilegalidad­e em Moro aceitar o trabalho. “Como ex-juiz, ele só não pode advogar por três anos perante o tribunal ao qual pertencia. Como ex-ministro, não poderia exercer a advocacia por seis meses, segundo decisão do Conselho de Ética da Presidênci­a

da República”, afirmou.

Também professor de Direito Penal da PUC-SP, Paulo Cunha Bueno disse não haver qualquer infração legal. “Ele já não é mais magistrado, não tem jurisdição ou influência alguma sobre o processo. Além disso, não exerce qualquer função pública e está sendo contratado por uma atividade no âmbito privado. Não há qualquer impediment­o legal que inviabiliz­e a aceitação da função.”

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ADRIANO MACHADO/REUTERS-12/5/2020 Trabalho. Consultori­a anunciou a contrataçã­o de Moro

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