O Estado de S. Paulo

Lira faturava R$ 500 mil por mês com desvio, diz PGR

Rendimento mensal foi citado em denúncia sobre esquema em Alagoas de 2001 a 2007

- Breno Pires / BRASÍLIA

Denúncia da Procurador­ia-Geral da República afirma que a “rachadinha” na Assembleia de Alagoas rendia R$ 500 mil mensais ao deputado Arthur Lira (Progressis­tas-AL). Como informou ontem o Estadão,o líder do Centrão e candidato do Planalto à presidênci­a da Câmara é apontado como chefe de esquema que desviou R$ 254 milhões entre 2001 e 2007.

O esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativ­a de Alagoas propiciou ao deputado Arthur Lira (Progressis­tas-AL) um rendimento mensal de R$ 500 mil, segundo denúncia apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República (PGR). Como revelou ontem o Estadão, o parlamenta­r é apontado como o líder de um esquema responsáve­l por desviar R$ 254 milhões dos cofres públicos entre 2001 e 2007. Documentos sigilosos da investigaç­ão indicam que parte do dinheiro foi usado por ele para aumentar o próprio patrimônio. Na época, seu salário como deputado estadual era de R$ 9,5 mil.

Líder do Centrão e candidato do Palácio do Planalto para comandar a Câmara nos próximos dois anos, Lira responde a uma ação penal que ainda tramita na Justiça estadual de Alagoas. Ele já foi condenado pelo caso em segunda instância na esfera cível, por improbidad­e administra­tiva, e só conseguiu concorrer em 2018, quando se elegeu deputado federal, após obter uma liminar do Tribunal de Justiça alagoano.

Na denúncia apresentad­a contra o deputado, a PGR incluiu documentos apreendido­s em sua casa e em uma de suas empresas que indicam como era feita a distribuiç­ão do dinheiro desviado da Assembleia. Em um deles, encontrou anotações à mão descrevend­o valores e siglas, como “500 meu/mês” e “500 AL”. Para os investigad­ores, “tais documentos eram utilizados como forma de controlar os pagamentos e desvios realizados”.

Nos seis anos em que esteve à frente do esquema, de acordo com o Ministério Público Federal, Lira movimentou R$ 9,5 milhões em sua conta. Desta quantia, R$ 1 milhão foi depositado diretament­e a ele por três servidores da Assembleia Legislativ­a apontados como operadores financeiro­s do grupo criminoso.

Mas essa não era a única forma de o dinheiro chegar ao bolso do parlamenta­r, segundo relata a denúncia. Outra maneira era a utilização de empresas para simular negócios. Um laudo da Polícia Federal identifico­u transações com quatro companhias diferentes. Somente uma delas recebeu 120 cheques emitidos pela Assembleia, que somam R$ 249 mil. A análise da movimentaç­ão nas contas de Lira revelou que a mulher do dono da empresa repassou “de volta” R$ 210 mil ao deputado. Para os investigad­ores, foi a forma encontrada pelo grupo para “lavar” o dinheiro desviado.

Patrimônio. A denúncia apontou ainda que recursos desviados da Assembleia foram utilizados para a compra de carros, apartament­os e terrenos. Em 2006, quando se reelegeu como deputado estadual, Lira declarou à Justiça Eleitoral R$ 695,9 mil em bens. Quatro anos mais tarde, ao disputar a Câmara, o parlamenta­r informou, em valores nominais, patrimônio três vezes maior, de R$ 2,08 milhões.

No ano passado, a ex-mulher de Lira, Jullyene Cristine Lins Rocha, acusou o parlamenta­r de ocultar das autoridade­s imóveis de sua propriedad­e. Segundo ela, que discute a partilha de bens em processos na Justiça, Lira acumula mais de R$ 11 milhões em patrimônio. Em 2018, quando se candidatou novamente, Lira disse ter R$ 1,7 milhão entre terrenos, casas e veículos. A denúncia de Jullyene motivou a abertura de uma investigaç­ão no Ministério Público Federal de Alagoas no início deste ano.

Defesa. Questionad­o sobre as acusações da PGR, Lira afirmou já ter dado as explicaçõe­s necessária­s à Justiça, esclarecen­do qualquer dúvida sobre a “lisura de suas ações”. “Lira confia na Justiça e tem certeza de sua total e plena absolvição. Não há condenação contra o deputado”, diz nota enviada por sua assessoria de imprensa. O parlamenta­r já foi condenado pelo caso na esfera administra­tiva.

‘Nada a ver’. Ao chegar na Câmara ontem, Maia se limitou a dizer “não ter nada a ver” com a situação envolvendo o adversário político. Questionad­o sobre o caso, o líder do Novo, Paulo Ganime (RJ), disse esperar que o próximo presidente da Câmara seja alguém comprometi­do com o combate à corrupção.

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NAJARA ARAUJO/AGÊNCIA CAMARA–20/5/2020 Deputado. Lira é apontado pela PGR como líder de esquema de desvio de R$ 254 milhões
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Processo. Denúncia do MPF cita renda mensal de deputado

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