O Estado de S. Paulo

A queda do PIB neste ano ultraprobl­emático pode ficar um pouco aquém dos 4,5% projetados.

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Foi bom, vá lá... Não foi uma grande vitória, mas foi uma vitória, especialme­nte quando seu resultado é comparado com o que se esperava no início da crise. O avanço do PIB no terceiro trimestre do ano (sobre o anterior) foi de 7,7%, um pouco menor do que tinha sido cravado na expectativ­a dos analistas.

É um número que parece graúdo, mas não deve enganar. Foi medido sobre uma base anterior muito baixa e ainda não pode ser tomado como garantia de que haverá uma recuperaçã­o firme nos trimestres seguintes.

Baseou-se no consumo turbinado pelo auxílio emergencia­l que distribuiu mais de R$ 275 bilhões para 68 milhões de beneficiár­ios. Não foi possível contar com o avanço da agropecuár­ia, o setor campeão deste ano, porque o terceiro trimestre coincide com a entressafr­a. Fator positivo inesperado foi o aumento da poupança, o pedaço da renda não consumido, na participaç­ão do PIB. Deveu-se ao comportame­nto mais conservado­r do consumidor, que temeu por dias piores e entendeu que devesse guardar algum dinheiro (veja o gráfico no Confira) para enfrentar dias ruins.

Para fugir da crítica de uma análise excessivam­ente focada pelo espelho retrovisor, convém avaliar o que vem pela frente. O fator mais positivo é a perspectiv­a de vacinação. O ritmo de distribuiç­ão da vacina no Brasil deverá ser inferior ao de muitos países avançados por conta da política negacionis­ta e confusa sobre os efeitos da pandemia mantida até aqui pelo governo federal. Mas, já no primeiro trimestre do ano que vem, haverá progresso, com forte impacto sobre o setor produtivo e, também, sobre o consumo.

Outro fator positivo para a economia brasileira é a melhora da economia mundial. Além de providenci­ar vacinação em massa, os governos das grandes potências continuam empenhados em investimen­tos destinados a destravar a economia.

O novo governo Biden, nos Estados Unidos, anunciou um programa robusto de infraestru­tura. E os grandes bancos centrais seguem com políticas monetárias (políticas de juros) frouxas para evitar restrições ao crédito.

Mas essa não é toda a história, pelos enormes riscos que estão logo aí, a começar pela desorganiz­ação das contas públicas. O governo federal continua sem planejamen­to claro sobre como resolvê-la. Esse é o principal fator que deverá impedir a distribuiç­ão de mais parcelas do auxílio emergencia­l. Também não está claro como o governo pretende tocar as reformas tributária e administra­tiva. Essas omissões são fontes de incertezas que seguram os negócios, os investimen­tos e a criação de empregos, num cenário já minado por nada menos que 14,1 milhões de desemprega­dos e pelo menos outros tantos de subemprega­dos.

Resumo da ópera: a queda do PIB em todo este ano ultraprobl­emático pode ficar um pouco aquém dos 4,5% agora projetados.

E, para 2021, já há quase certeza de bom cresciment­o da renda nacional. Mas é preciso um pouco mais de quilometra­gem rodada para ter uma boa ideia de suas proporções.

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