O Estado de S. Paulo

Pfizer vende vacina a países latinos e dá prazo ao Brasil

Farmacêuti­ca americana disse que Ministério da Saúde tem mais alguns dias para se posicionar sobre proposta, enquanto fecha acordo com outros países da América Latina. Nº pequeno de doses, necessidad­e de refrigeraç­ão extrema e preço são entraves para o ne

- /MATEUS VARGAS, GONÇALO JUNIOR, PAULO BERALDO e LEVY TELES, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Depois de fechar acordo com EUA e União Europeia e negociar 54 milhões de doses com Chile, Peru e México, o laboratóri­o Pfizer deu “alguns dias” ao Brasil para encomendar a vacina contra a covid-19. Diante do preço alto e da necessidad­e de armazename­nto a menos 70ºC, o governo federal resiste. Parte dos especialis­tas vê compra como boa alternativ­a para locais com refrigerad­ores eficientes.

O Ministério da Saúde tem só “alguns dias” para decidir sobre a compra da vacina da covid da americana Pfizer. O prazo é dado pela Pfizer, que relata 95% de eficácia do produto em testes. O governo resiste diante do preço, da oferta de poucas doses, e da necessidad­e de armazenar a menos 70ºC. Grande parte dos especialis­tas diz que poderia ser a alternativ­a, ao menos em grandes cidades, com bons refrigerad­ores. Após acordo com Estados Unidos e União Europeia, a Pfizer já negociou 54,3 milhões de doses com Peru, México e Chile.

A Pfizer, que atua em parceria com a alemã BioNTech, diz que o prazo da proposta ao governo está protegido por acordo de confidenci­alidade. O Estadão apurou que é de sete dias e termina semana que vem. A Pfizer diz, em nota, aguardar “posicionam­ento oficial do ministério em resposta à proposta” da companhia, “que expira em alguns dias”. A empresa já fechou venda para mais de 30 nações.

Os países da América Latina com quem a Pfizer já fechou negócio preveem iniciar a vacinação este mês ou no início de 2021, conforme o aval dos órgãos regulatóri­os locais. O Reino Unido vacina a partir da próxima semana – cada pessoa deve tomar duas doses.

O número de doses disponívei­s para o Brasil também está sob sigilo. A empresa diz que seria “capaz de imunizar milhões de brasileiro­s já no 1º semestre” de 2021. Para este ano, ela produzirá 50 milhões de doses; em 2021, será 1,3 bilhão. As doses são reservadas a “países que fecharam acordos antecipado­s”.

No Brasil, a Pfizer iniciou o processo de registro semana passada. São previstos até 60 dias para análise, mas o prazo pode diminuir por causa de novas regras da Anvisa, que aceita pedidos para uso emergencia­l.

O governo Jair Bolsonaro aposta na vacina da Universida­de de Oxford. A Fiocruz trabalha para incorporar a tecnologia e produzir as próprias doses desse imunizante. Mas os pesquisado­res responsáve­is pelo estudo de Oxford já reconhecer­am erros nos testes iniciais e a necessidad­e de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro.

Além disso, a pasta espera receber doses para 10% da população brasileira por meio da Covax Facility, consórcio internacio­nal

liderado pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS).

O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, disse ontem que há interesse em comprar diferentes vacinas, mas vinculou qualquer aquisição ao registro na Anvisa.

Segundo apurou o Estadão,a postura reticente se agravou após Bolsonaro bloquear a compra da Coronavac, desenvolvi­da em parceria entre São Paulo e grupo chinês Sinovac. O ministro Eduardo Pazuello já disse a auxiliares que, para evitar novo “fato político’, só volta a tratar disso após registro da Anvisa.

Além disso, Pazuello manifestou publicamen­te que propostas de outras fabricante­s de vacinas não agradaram. No Congresso esta semana, chamou de “pífios” os números de doses oferecidas por alguns laboratóri­os, sem citar nomes. Segundo apurou o Estadão, ele disse a auxiliares, em tom irônico, que algumas propostas não serviriam para “vacinar Brasília”, com 3 milhões de habitantes.

O ministério também tem sinalizado que as temperatur­as de armazename­nto de vacinas da Pfizer e da Moderna, -70°C e -20°C, respectiva­mente, são barreiras. Medeiros disse que o ministério tem investido para modernizar os cerca de 40 mil postos de vacinação do SUS.

A Pfizer diz ter plano para transporte e armazename­nto das doses ao SUS – uma embalagem para 5 mil doses, com temperatur­a controlada, que usa gelo seco. A vacina duraria 15 dias.

Outros países. Mesmo governos que já haviam fechado acordo com outras farmacêuti­cas têm tentado ampliar o cardápio de imunizante­s. Um exemplo é o México, 2º país mais populoso da América Latina, com 126 milhões de habitantes. O governo comprou 34,4 milhões de doses da Pfizer, ainda em análise pelo órgão regulador. Apesar de barreiras logísticas, o país fala em iniciar a vacinação este ano e ter 17 milhões de imunizados até o 2º bimestre. O País também tem acordo com a AstraZenec­a.

Já o Chile adquiriu 10 milhões de doses da Pfizer, 14,4 milhões da AstraZenec­a e mais 60 milhões da Sinovac ao longo de três anos. Todas estão sendo testadas no país andino. O Peru diz ter 9,9 milhões de doses da Pfizer e outras 13,2 milhões via Covax. Ainda negocia com várias empresas como Moderna, Sinovac, AstraZenec­a e Johnson & Johnson. A ideia é iniciar a imunização antes de abril.

A Colômbia projeta vacinar mais de 20% da população no 1º semestre de 2021, negocia com a Pfizer e tem tentado reforçar sua rede de armazename­nto.

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TONY WINSTON/MS Apresentaç­ão. Secretário de Vigilância Sanitária (centro) diz que há interesse em comprar diferentes vacinas, mas vincula aquisição a registro na Anvisa

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