Rede privada só deve ter vacina em 2022
Como fabricantes priorizam negociação com governos, particulares terão de esperar; mais otimistas preveem ter produto no fim de 2021
O telefone não para de tocar na ImunoVacin, em Campinas, no interior paulista. Muitas pessoas ligam para a clínica privada de vacinação para saber quando poderão receber o imunizante contra a covid-19. A resposta é que ninguém sabe ainda. A previsão mais otimista é entre o segundo semestre de 2021 e o primeiro de 2022, segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).
Mas não há nada acertado ainda. As farmacêuticas que estão mais avançadas no desenvolvimento dos imunizantes têm resposta padrão para a rede privada: todas as negociações iniciais estão sendo feitas com os governos. Somente depois, quando já houver um excedente de produção, as clínicas particulares serão atendidas.
“Estamos recebendo inúmeras ligações diariamente, muitas pessoas pedem para ser colocadas em listas de espera”, contou Fernanda Gomes Pereira Rosa, diretora da ImunoVacin. “Por enquanto, não há nenhuma previsão concreta sobre quando teremos as vacinas; então não posso fazer listas de espera, alimentar a esperança da população desse jeito.”
O presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, contou que a associação esteve em contato com todos os fabricantes em fase avançada desenvolvimento de imunizantes e que, de fato, não há previsão de vendas a curto prazo para a rede privada.
“Somente num segundo momento, quando houver um excedente de produção, será aberta a negociação com o mercado privado”, explicou. “E está certo. A atitude correta é priorizar quem mais precisa da vacina.”
Enquanto os produtos distribuídos pelo governo podem, eventualmente, se valer de algum registro de uso emergencial pela Anvisa para atender às populações mais vulneráveis, possivelmente isso não será estendido às clínicas privadas.
Segundo Barbosa, a rede privada dispõe da tecnologia necessária para transporte e armazenagem das vacinas da Pfizer e da Moderna – que demandam temperaturas de – 70ºC. No futuro, se, de fato, o governo brasileiro optar por não distribuir estas vacinas por causa da logística
envolvida, a rede privada poderá oferecer uma alternativa aos produtos de Oxford e da chinesa Sinovac. “Mas nada disso ocorrerá a curto prazo”, frisou Barbosa. “Mesmo que o governo brasileiro não compre as vacinas da Pfizer e da Moderna, as duas farmacêuticas só estão negociando com governos.”
Barbosa alertou para o fato de que a cobertura vacinal tradicional da população está atrasada, sobretudo por causa do isolamento social. Por isso, seria bom colocar o calendário vacinal em dia para não haver sobrecarga no futuro, quando a vacina contra a covid-19 estiver disponível na rede privada.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, que também é membro da câmara técnica assessora do Programa Nacional de Imunizações, afirma ser pouco provável que toda a população seja contemplada com as vacinas que o governo colocará à disposição. Além disso, diz, dificilmente o governo vai trabalhar com mais de duas vacinas. “As clínicas privadas, em geral, têm esses dois focos mesmo: aqueles que não foram contemplados nas campanhas e no oferecimento de vacinas de nova geração não oferecidas pelo governo”, explica./COLABOROU