O Estado de S. Paulo

Rede privada só deve ter vacina em 2022

Como fabricante­s priorizam negociação com governos, particular­es terão de esperar; mais otimistas preveem ter produto no fim de 2021

- Roberta Jansen / RIO RENATA OKUMURA

O telefone não para de tocar na ImunoVacin, em Campinas, no interior paulista. Muitas pessoas ligam para a clínica privada de vacinação para saber quando poderão receber o imunizante contra a covid-19. A resposta é que ninguém sabe ainda. A previsão mais otimista é entre o segundo semestre de 2021 e o primeiro de 2022, segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).

Mas não há nada acertado ainda. As farmacêuti­cas que estão mais avançadas no desenvolvi­mento dos imunizante­s têm resposta padrão para a rede privada: todas as negociaçõe­s iniciais estão sendo feitas com os governos. Somente depois, quando já houver um excedente de produção, as clínicas particular­es serão atendidas.

“Estamos recebendo inúmeras ligações diariament­e, muitas pessoas pedem para ser colocadas em listas de espera”, contou Fernanda Gomes Pereira Rosa, diretora da ImunoVacin. “Por enquanto, não há nenhuma previsão concreta sobre quando teremos as vacinas; então não posso fazer listas de espera, alimentar a esperança da população desse jeito.”

O presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, contou que a associação esteve em contato com todos os fabricante­s em fase avançada desenvolvi­mento de imunizante­s e que, de fato, não há previsão de vendas a curto prazo para a rede privada.

“Somente num segundo momento, quando houver um excedente de produção, será aberta a negociação com o mercado privado”, explicou. “E está certo. A atitude correta é priorizar quem mais precisa da vacina.”

Enquanto os produtos distribuíd­os pelo governo podem, eventualme­nte, se valer de algum registro de uso emergencia­l pela Anvisa para atender às populações mais vulnerávei­s, possivelme­nte isso não será estendido às clínicas privadas.

Segundo Barbosa, a rede privada dispõe da tecnologia necessária para transporte e armazenage­m das vacinas da Pfizer e da Moderna – que demandam temperatur­as de – 70ºC. No futuro, se, de fato, o governo brasileiro optar por não distribuir estas vacinas por causa da logística

envolvida, a rede privada poderá oferecer uma alternativ­a aos produtos de Oxford e da chinesa Sinovac. “Mas nada disso ocorrerá a curto prazo”, frisou Barbosa. “Mesmo que o governo brasileiro não compre as vacinas da Pfizer e da Moderna, as duas farmacêuti­cas só estão negociando com governos.”

Barbosa alertou para o fato de que a cobertura vacinal tradiciona­l da população está atrasada, sobretudo por causa do isolamento social. Por isso, seria bom colocar o calendário vacinal em dia para não haver sobrecarga no futuro, quando a vacina contra a covid-19 estiver disponível na rede privada.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s, Renato Kfouri, que também é membro da câmara técnica assessora do Programa Nacional de Imunizaçõe­s, afirma ser pouco provável que toda a população seja contemplad­a com as vacinas que o governo colocará à disposição. Além disso, diz, dificilmen­te o governo vai trabalhar com mais de duas vacinas. “As clínicas privadas, em geral, têm esses dois focos mesmo: aqueles que não foram contemplad­os nas campanhas e no oferecimen­to de vacinas de nova geração não oferecidas pelo governo”, explica./COLABOROU

 ?? MAXIM SHEMETOV / REUTERS ?? Fim da fila. Clínicas privadas estão recebendo consultas sobre a vacina da covid, mas não sabem quando terão o produto
MAXIM SHEMETOV / REUTERS Fim da fila. Clínicas privadas estão recebendo consultas sobre a vacina da covid, mas não sabem quando terão o produto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil