O Estado de S. Paulo

Doria fala em vacinar paulistas em janeiro

Expectativ­a do governo de SP é apresentar resultados de estudo da Coronavac até dia 15; aplicação depende de autorizaçã­o da Anvisa Rede privada só deve ter vacina em 2022. Pág. A17 }

- Priscila Mengue Fabiana Cambricoli Carla Menezes

Início da imunização no Estado de São Paulo depende dos resultados de eficácia do estudo clínico da fase 3 da Coronavac, esperados até o dia 15, e da liberação por parte da Anvisa.

Sem apresentar resultados de eficácia, o governo de São Paulo disse ontem que deverá começar a vacinação com a Coronavac em janeiro de 2021. O início da imunização, porém, depende da divulgação dos resultados do estudo clínico da fase 3 da vacina, desenvolvi­da pela empresa chinesa Sinovac e produzida em parceria com o Instituto Butantã. A promessa é que os dados sejam apresentad­os até o dia 15 de dezembro. Depois disso, eles ainda precisam ser analisados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que decidirá se dará ou não o registro ao produto.

O Estado recebeu 120 mil doses do imunizante em novembro. Ontem, foi a vez de chegarem 600 litros da vacina a granel, cujos insumos serão utilizados para a produção de 1 milhão de doses pelo Butantã a partir da próxima semana.

“Vamos iniciar a imunização dos brasileiro­s de São Paulo em janeiro. Não vamos aguardar março nem vamos enterrar mais brasileiro­s”, disse o governador João Doria (PSDB) em coletiva de imprensa na tarde de ontem. Ele criticou o planejamen­to federal, que prevê o início da vacinação em março.

Doria voltou a dizer que, caso a Coronavac não seja incluída em um plano nacional de imunização, ela será aplicada na população paulista. Também anunciou que um cronograma de imunização estadual está pronto há mais de 20 dias e será anunciado na próxima segunda-feira, com informaçõe­s sobre grupos prioritári­os, datas e outros dados de logística.

Segundo José Medina, coordenado­r do Centro de Contingênc­ia contra a Covid-19, um dos principais critérios deve ser a idade. Ele destacou que a maioria dos óbitos no Estado são de pacientes com mais de 50 anos.

O governador voltou a criticar as decisões do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro.

“Surpreende essa indiferenç­a, esse distanciam­ento”, declarou. “Por que iniciar (a vacinação) em março se podemos fazer no mês de janeiro, como outros países começam a fazer agora, no mês de dezembro?”

O acordo entre Estado, Butantã e Sinovac prevê 46 milhões de doses da vacina. A estimativa é que outras 6 milhões cheguem ainda neste mês, enquanto o restante seja enviado até a primeira quinzena de janeiro. Ao ser retirado do avião, o lote mais recente foi coberto por um banner escrito “A vacina do Brasil”. A Coronavac já foi chamada por Bolsonaro de “vacina chinesa de João Doria”.

O diretor do Butantã, Dimas Covas, disse estar em contato constante com o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros. “No meu entendimen­to, existe, conforme manifestad­o anteriorme­nte pelo ministro da Saúde, interesse sim do ministério em adquirir essas vacinas, desde que disponívei­s e registrada­s pela Anvisa.” Em outubro, após o Ministério da Saúde manifestar a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, Bolsonaro afirmou que a vacina não seria comprada.

O diretor do Butantã informou que a Anvisa termina hoje as inspeções na fábrica da Sinovac na China. Além disso, apontou que a Coronavac está encaminhad­a para ter um registro definitivo na agência, e não apenas para aplicação emergencia­l.

Recepção. Doria esteve no Aeroporto de Guarulhos para acompanhar a chegada do material na manhã de ontem, com o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchtey­n, e Covas.

Segundo o governo, a vacina foi transporta­da no avião em equipament­o refrigerad­o a temperatur­as de 2º C a 8º C. O processo de envase pode levar de quatro a sete dias. O lote deve passar por testes de qualidade.

Os resultados das duas primeiras fases dos testes clínicos apontaram que a Coronavac seria segura e teria capacidade de produzir resposta imune no organismo 28 dias após a aplicação em 97% dos casos.

Mudanças no cronograma. Não é a primeira vez que Doria anuncia uma data para início da imunização. Em setembro, ele afirmou que os resultados de eficácia da Coronavac sairiam em outubro e a vacinação começaria no dia 15 de dezembro. O cronograma não se concretizo­u.

Recentemen­te, outra pequena mudança de planos: no dia 23 de novembro, o Butantã anunciou que os testes clínicos da Coronavac entraram em sua fase final e atingiram o número mínimo necessário de infecções entre os voluntário­s para que a análise de eficácia do produto

pudesse ser feita. Na ocasião, a promessa foi de que os resultados seriam divulgados na primeira semana de dezembro. Ontem, o governo de São Paulo ampliou esse prazo e estima agora que os dados sejam divulgados até o dia 15.

Mesmo após a divulgação dos resultados de eficácia e submissão dos dados à Anvisa, o órgão ainda tem dois meses para decidir se dá ou não o registro. Para isso, é necessária a comprovaçã­o de eficácia mínima de 50%.

A análise de eficácia que está sendo feita pelo Butantã, com a análise de 74 voluntário­s infectados, é chamada de interina, pois é feita antes dos testes clínicos serem finalizado­s. Geralmente, resultados parciais como esses somente são suficiente­s para embasar uma aprovação quando muito robustos estatistic­amente, ou seja, se a diferença no número de infecções entre o grupo vacinado e o grupo placebo for muito grande. A análise final de eficácia da Coronavac será feita só quando o estudo registrar 151 infectados.

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GOVERNO SP Remessa. São Paulo recebeu 600 litros da vacina a granel
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