O Estado de S. Paulo

Toffoli manda PF ouvir ministro da Educação

Após depoimento de Milton Ribeiro, relator do caso no Supremo vai decidir se abre inquérito pelo crime de homofobia

- Jussara Soares Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli determinou que a Polícia Federal marque o depoimento do ministro da Educação, Milton Ribeiro, sobre suposta prática do crime de homofobia. Em entrevista ao Estadão, publicada em setembro, Ribeiro disse que o “homossexua­lismo (sic)” é resultado de “famílias desajustad­as”. A declaração levou a Procurador­ia-Geral da República (PGR) a pedir a abertura de um inquérito, mas Toffoli, relator do caso na Corte, decidiu que o ministro fosse ouvido antes da instauraçã­o do procedimen­to.

No despacho, Toffoli diz que a data e a hora devem ser acertadas com o ministro. A decisão ocorre uma semana depois de Ribeiro rejeitar o acordo oferecido PGR que poderia livrá-lo da abertura de inquérito por homofobia. Para isso, o ministro teria de admitir que cometeu crime preconceit­uoso contra homossexua­is, o que poderia ser interpreta­do como um sinal contraditó­rio do próprio governo Bolsonaro, que tenta no STF justamente “relativiza­r” o conceito de homofobia.

No mesmo despacho, o ministro do STF também negou o pedido do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) para participar do depoimento do ministro. “Não são possíveis tais intervençõ­es nessa fase prematura de investigaç­ão”, relatou Toffoli.

Contexto. Pastor presbiteri­ano, Milton Ribeiro assumiu o MEC em julho, substituin­do Abraham Weintraub e prometendo ter um estilo mais moderado. Na entrevista ao Estadão, publicada em 23 de setembro, o ministro defendeu mudanças em relação à educação sexual. Segundo ele, muitas vezes a disciplina é usada para incentivar discussões de gênero. “E não é normal. A opção que você tem como adulto, de ser um homossexua­l, eu respeito, não concordo”, afirmou ele na ocasião.

“Acho que o adolescent­e que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexua­lismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustad­as, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato, e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”, disse.

Após o pedido de abertura de inquérito contra Ribeiro, a AGU pediu ao Supremo, no dia 14 de outubro, que reconheça uma série de “excludente­s de ilicitude” em casos de homofobia e transfobia. O objetivo é que a Corte esclareça que “não só a liberdade religiosa, mas a própria liberdade de expressão, (englobando a manifestaç­ão artística, científica ou profission­al), respalda a possibilid­ade de manifestaç­ão não aviltante a propósito da moralidade sexual”.

Ao pedir abertura da investigaç­ão contra o ministro, logo após a entrevista, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, considerou as declaraçõe­s de Ribeiro “depreciati­vas a pessoas com orientação sexual homoafetiv­a” e “ofensivas à dignidade do apontado grupo social”.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–23/9/2020 ?? Ministro. Ribeiro ligou ‘homosexual­ismo’ a ‘desajuste’
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–23/9/2020 Ministro. Ribeiro ligou ‘homosexual­ismo’ a ‘desajuste’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil