O Estado de S. Paulo

Irã aceita cumprir acordo nuclear se EUA levantarem sanções

Chanceler iraniano diz que americanos e europeus teriam de manter os termos do acordo firmado em 2015

- TEERÃ REUTERS e NYT

O Irã prometeu cumprir integralme­nte o acordo de 2015 que impede o país de desenvolve­r armas nucleares se EUA e Europa também honrarem seus compromiss­os, disse ontem o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif. O presidente americano, Donald Trump, retirou o país do pacto em 2018, dizendo que ele não era suficiente para conter os programas nuclear e balístico do Irã ou sua influência no Oriente Médio.

No entanto, o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, garantiu que retomará o acordo se antes Teerã voltar a obedecê-lo rigorosame­nte. O democrata afirmou que pretende trabalhar com os aliados tradiciona­is do país para “reforçar e ampliar” as negociaçõe­s com o Irã.

Falando por videoconfe­rência para um seminário em Roma, Zarif disse que o chamado Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, na sigla em inglês) não pode ser renegociad­o, mas pode ser ressuscita­do. “Os EUA têm compromiss­os. Não estão em posição de estabelece­r condições”, disse.

Na quarta-feira, o Parlamento do Irã aprovou uma lei que obriga o governo a suspender inspeções da ONU em suas instalaçõe­s nucleares e acelerar seu enriquecim­ento de urânio além do limite estabeleci­do pelo pacto de 2015, caso as sanções americanas não forem amenizadas dentro de dois meses.

Zarif disse que, embora o governo não tenha gostado do teor do texto aprovado, irá implantá-lo. “Mas não é irreversív­el”, observou. “Os europeus e os EUA podem voltar a cumprir o acordo. Se o fizerem, recuaremos não somente nesta nova lei, mas vamos nos desfazer de outras ações que adotamos no período. Voltaremos ao cumpriment­o integral (do acordo).”

O chanceler disse que as sanções econômicas impostas pelo governo americano já custaram US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,2 trilhão) aos iranianos e tornaram impossível ao país comprar remédios e vacinas para combater o coronavíru­s, que está impondo um fardo particular­mente pesado ao país – o Irã superou ontem a barreira de 1 milhão de casos.

“É um crime contra a humanidade”, afirmou Zarif, acrescenta­ndo que as medidas americanas estão impedindo que empresas europeias façam negócios com o Irã, o que acaba com a esperança de haver uma recuperaçã­o da economia desde que o acordo de 2015 foi assinado.

“Os europeus dizem que estão cumprindo integralme­nte

(o acordo), mas eles simplesmen­te não estão. Não vemos nenhuma empresa europeia no Irã, não vemos nenhum país europeu comprando petróleo do Irã, não vemos nenhum banco europeu nos enviar nosso dinheiro”, protestou.

Tensão. A morte do cientista Mohsen Fakhrizade­h, chefe do Departamen­to de Pesquisa e Inovação do Ministério da Defesa, na semana passada, aumentou a tensão no Oriente Médio. O assassinat­o, visto como uma operação israelense, teria com objetivo impedir a aproximaçã­o entre Biden e Irã.

Em meio à escalada das ameaças, o governo dos EUA decidiu retirar funcionári­os de sua embaixada em Bagdá antes do fim de Trump. Um funcionári­o do Departamen­to de Estado, que pediu anonimato, descreveu a ação como uma “redução de risco” temporária.

Há também o temor de represália­s contra a morte do líder militar iraniano Qassin Suleimani, que completará um ano em 3 de janeiro – ele foi atacado por um drone americano quando saía do aeroporto de Bagdá. “O Departamen­to de Estado ajusta continuame­nte sua presença diplomátic­a nas embaixadas”, informou o órgão.

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ABEDIN TAHERKENAR­EHN/EFE Mudança. Mural anti-EUA em Teerã: aposta em Biden

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