O Estado de S. Paulo

Consumo, auxílio emergencia­l e crédito puxam alta do PIB

Famílias brasileira­s consumiram 7,6% mais no terceiro trimestre ante o segundo trimestre, que havia registrado um tombo de 11,3%

- Daniela Amorim Vinicius Neder / RIO

O auxílio emergencia­l de R$ 600 mensais para trabalhado­res informais, medida para mitigar a crise causada pela covid-19, e o aumento nas concessões de crédito para pessoas físicas impulsiona­ram o consumo das famílias, contribuin­do para uma retomada da economia no terceiro trimestre mais vigorosa do que o esperado no início da crise.

As famílias brasileira­s consumiram 7,6% mais de julho a setembro, em relação ao trimestre imediatame­nte anterior, após do tombo de 11,3% no segundo trimestre e de 2% no primeiro, de acordo com dados do IBGE.

A melhora na demanda doméstica incentivou tanto a produção quanto a venda de alimentos, eletrodomé­sticos e artigos de mobiliário, turbinando o desempenho da indústria de transforma­ção e do comércio no terceiro trimestre. As duas atividades praticamen­te já retornaram aos níveis pré-pandemia.

A coordenado­ra de Contas Nacionais no IBGE, Rebeca Palis, lembra que a indústria foi praticamen­te paralisada pela pandemia no segundo trimestre, enquanto o comércio não chegou a perder tanto, em função da ajuda do auxílio emergencia­l. Como as famílias continuara­m a consumir, o IBGE percebeu uma redução nos estoques, o que ajuda a explicar também essa reação mais forte da indústria de transforma­ção no terceiro trimestre.

Com as medidas de isolamento social, as famílias deixaram de consumir serviços antes cotidianos, penalizand­o o desempenho de setores como alojamento, alimentaçã­o, serviços pessoais e recreação. Com menos gastos fora de casa, houve um aumento na poupança. Essa reserva financeira, conquistad­a especialme­nte pelas famílias de renda mais alta, ajudou a impulsiona­r a aquisição de bens duráveis.

“A vacina é mais fundamenta­l para o consumo de serviços do que para o comércio. O consumo represado pelo comércio consegue ser recuperado no momento seguinte. Nos serviços não há esse efeito de estocagem. Quem não viajou não viajará duas vezes, quem não almoçou fora não vai almoçar duas vezes”, lembrou o economista Fabio Bentes, da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Serviços. O desempenho dos serviços foi o responsáve­l pela retomada do terceiro trimestre não ter sido suficiente para recuperar as perdas do primeiro semestre, afirmou Rebeca, do IBGE. Os serviços respondem por 73,5% da economia brasileira. A pandemia afetou especialme­nte o desempenho dos serviços prestados às famílias e o transporte de passageiro­s.

“Mesmo que tenham acabado as restrições (ao funcioname­nto de alguns serviços), obviamente que tanto a oferta e também a demanda não voltaram aos patamares pré-pandemia”, disse Rebeca, acrescenta­ndo que as pessoas estão deixando de ir ao salão de beleza e ao cinema, por exemplo.

Novas restrições de funcioname­nto decorrente­s do atual agravament­o da pandemia em cidades importante­s, como São Paulo e Rio, podem frear o ritmo de recuperaçã­o do consumo nos próximos trimestres, assim como a extinção do auxílio emergencia­l em meio a um mercado de trabalho ainda precário.

“Várias cidades estão fechando outra vez. Isso tudo prejudica a atividade econômica, mas é melhor salvar vidas. No próximo ano o PIB vai crescer, mas porque tem uma base de comparação muito baixa”, avaliou Claudio Considera, coordenado­r do Monitor do PIB do Instituto

“Se retiramos o auxílio (emergencia­l)de maneira súbita, que é o cenário que se coloca hoje, vamos entrar em recessão em

2021 de novo.”

José Oreiro PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

No terceiro trimestre, o consumo das famílias ficou 6,0% abaixo do patamar do terceiro trimestre do ano anterior. As famílias compraram mais bens não duráveis e praticamen­te mantiveram o consumo de não duráveis, mas diminuíram em 9,7% o consumo de serviços e em 14,6% o de produtos semiduráve­is, de acordo com os cálculos do Monitor do PIB-FGV.

A manutenção do auxílio emergencia­l após janeiro, ou sua substituiç­ão por um programa mais abrangente do que o Bolsa Família, divide economista­s. O grupo que defende a prorrogaçã­o, apesar da ampliação do rombo nas contas públicas, vê a elevação da dívida pública e a desconfian­ça de agentes do mercado como menos preocupant­es, já que vários países estão tomando medidas desse tipo e que os juros estão baixos no mundo todo.

“Se retiramos o auxílio de maneira súbita, que é o cenário que se coloca hoje, vamos entrar em recessão em 2021 de novo”, afirmou José Oreiro, professor do Departamen­to de Economia da Universida­de de Brasília (UnB).

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