O Estado de S. Paulo

José Marcio Camargo,

economista da PUC- Rio e da Genial Investimen­tos

- / D.G.

1.

Podemos ver os dados do 3º trimestre com otimismo?

Sem dúvida, o resultado do 3.º trimestre mostra um cresciment­o muito bom. É verdade que é um cresciment­o que vem de uma base muito baixa, de uma queda muito profunda no segundo trimestre, mas ainda assim é para ser comemorado. É verdade também que veio abaixo da média das expectativ­as dos analistas, mas é preciso olhar para os detalhes: setores importante­s, como indústria e serviços tiveram bom cresciment­o. O dado mostra uma economia em franca recuperaçã­o e uma retomada da formação bruta de capital fixo e do consumo das famílias.

2.

Muito do resultado se deve ao auxílio emergencia­l. O fim do benefício deve travar a economia?

O fim do auxílio emergencia­l preocupa, é claro, mas os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid ficaram acima do esperado também para o trabalho formal. Se o mercado de trabalho continuar nessa trajetória, a geração de emprego e renda vai conseguir substituir a redução da renda causada pelo fim do auxílio. O problema é que tem uma pandemia no caminho.

3.

Se houver uma segunda onda de covid-19, isso poderia postergar a recuperaçã­o da economia?

Se essa segunda onda vier com um aumento forte das restrições de circulação, não necessaria­mente como tivemos no começo da quarentena, mas se for preciso voltar ao isolamento mais forte, certamente afetaria o comportame­nto da atividade econômica. Mas isso é algo difícil de ser feito. A sociedade está cansada, não quer o isolamento. O planejamen­to da vacinação é importante para a recuperaçã­o.

4.

O aumento da dívida pública é uma preocupaçã­o para 2021?

Se o governo respeitar o teto de gastos, não vejo grandes problemas. Se ele não respeitar, a situação se complica muito. O País vai ter aumento dos juros, descontrol­e da inflação, desvaloriz­ação cambial e um retorno à taxas de cresciment­o negativas. Mas creio que o teto vai ser respeitado.

5.

Qual é o seu balanço das medidas tomadas pela equipe econômica no enfrentame­nto da crise?

É uma crise diferente de tudo que já vivemos. Algumas coisas foram muito positivas, o governo fez um programa para ter a menor queda possível de renda das pessoas. Dado o cenário, a reação foi positiva e os dados estão mostrando um pouco isso, o Brasil deve ter uma recuperaçã­o acima do que se esperava.

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