O Estado de S. Paulo

Reforma vira ‘moeda’ em eleição na Câmara

Votação de proposta que altera sistema tributário está sendo usada para medir força em eleição que só acontece em fevereiro

- Adriana Fernandes Camila Turtelli /BRASÍLIA

A votação da reforma tributária se transformo­u num “jogo de pôquer” no rastro da briga política pela sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Apontada como a principal reforma para acelerar o cresciment­o da economia, a proposta de mudança do sistema tributário está sendo usada como instrument­o de medição de forças para a eleição que acontece só no início de fevereiro.

A aposta da ala política do governo, que apoia a candidatur­a do deputado Arthur Lira (PPAL), é que Maia blefou quando disse que tinha 320 votos para aprovar a proposta até o fim do ano (são necessário­s 308).

Se for levada adiante, a votação pode acabar virando uma prova de fogo para explicitar os votos que Maia conta para o seu candidato à presidênci­a da Câmara ou para a sua própria candidatur­a, caso julgamento no Supremo Tribunal Federal que começa hoje abra caminho para a sua reeleição.

Em meio ao clima azedo dos bastidores, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), usou um evento ontem à noite para referendar o apoio do Executivo à aprovação da reforma tributária. “Maia quer votar a tributária, nós votamos com ele”, disse Barros. “Quando tem acordo, votamos rapidament­e”, afirmou.

Apesar do tom conciliado­r, a fala do líder do governo é vista ainda com desconfian­ça por apoiadores da Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC45), de autoria do líder do MDB, Baleia Rossi (SP). Já governista­s creditam na conta de Maia uma estratégia de usar a reforma para estender a sua influência e protagonis­mo na eleição.

O próprio Barros avisou a Maia que o governo “topa” votar a reforma. Em nota, disse que a aprovação da reforma tributária é uma das prioridade­s do governo Bolsonaro e que o Executivo aguarda relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para emitir seu parecer oficial. Ao Estadão, Aguinaldo disse que tem convicção da disposição dos parlamenta­res em votar a proposta, que, segundo ele, é de Estado e não de governo. “Não entro nessa disputa mesquinha. Eu tenho outra visão, é briga de menino buchudo, como a gente diz na Paraíba. Estamos num outro patamar de compromiss­o com o País”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu o impasse político em torno da reforma. “Esse desentendi­mento político envolvendo a disputa da presidênci­a da Câmara, a conversa está parcialmen­te interrompi­da. O eixo governista quer a aprovação do Banco Central independen­te e da reforma administra­tiva, que já está lá, e o relator e o presidente da Câmara preferem começar a tributária agora”, disse. Segundo Guedes, os setores de saúde, educação e transporte­s terão alíquotas menores no futuro imposto que será criado. (Colaborara­m Eduardo Laguna e Eduardo Rodrigues)

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NAJARA ARAUJO - AGENCIA CAMARA Disputa. Rodrigo Maia pode ter aprovada sua reeleição em julgamento que começa hoje

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