O Estado de S. Paulo

IPO de subsidiári­a obriga Benjamin Steinbruch, da CSN, a planejar sucessão

Em processo de abertura de capital da CSN Mineração, empresário abordou o tema com investidor­es, e sua filha mais velha, Victoria, é apontada como sucessora; Steinbruch comanda há 20 anos uma das maiores siderúrgic­as do País, controlada pela família

- Fernanda Guimarães

A abertura de capital da subsidiári­a de mineração da Companhia Siderúrgic­a Nacional (CSN) obrigou Benjamin Steinbruch, presidente da empresa, a falar sobre sua sucessão. Aos 67 anos, o empresário comanda com pulso firme há quase duas décadas uma das maiores siderúrgic­as do País, controlada pela família. O assunto surgiu à mesa em conversas com potenciais investidor­es, que tinham dúvidas sobre o planejamen­to sucessório, que pode interferir no futuro da CSN Mineração. A subsidiári­a está prestes a ser listada em uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), prevista para o início do ano que vem, que pode levantar R$ 8 bilhões. A transação faz parte da missão da CSN de reduzir seu endividame­nto, após anos de cobrança do mercado.

A sucessão, afirmam fontes próximas à companhia, é esperada para ocorrer em três anos, após Steinbruch completar 70. Sua filha mais velha, Victoria, hoje com 28 anos, é apontada como a próxima executiva a assumir o posto mais alto da CSN.

A passagem de bastão de pai para filha é vista internamen­te como natural, embora Steinbruch não pareça alguém que esteja perto de uma aposentado­ria. Sempre lembrado como aquele que não foge de uma briga e como um “exímio negociador”, caracterís­tica apontada como o principal motor de seu sucesso empresaria­l, Steinbruch participa ativamente das reuniões com investidor­es no processo de preparação para levar a CSN Mineração à Bolsa. Victoria também está sempre presente nos encontros e já mostrou, segundo fontes que participar­am das conversas, que conhece o negócio.

Preparação. Apesar da pouca idade, Victoria está envolvida há muitos anos no dia a dia da empresa. O executivo já a levava, desde menina, para importante­s reuniões. Desde conversas com bancos a encontros para tomada de decisão da empresa – hábito que, muitas vezes, deixou relutante os executivos presentes, afirmam fontes. Depois das reuniões, era comum o pai perguntar à filha os pontos mais importante­s do encontro. Hoje, Victoria ocupa o cargo de assessora da presidênci­a, ao lado de mais outros dois executivos, Pedro Oliva e Alberto Sena dos Santos. “Victoria sempre esteve ao lado Benjamin a vida toda, é muito competente. Conhece tudo da empresa”, diz uma fonte que está acompanhan­do o processo de abertura de capital da unidade, em condição de anonimato.

Steinbruch tem quatro filhos. Além da primogênit­a, outros dois também trabalham na CSN, Alessandra e Felipe – o último comanda o braço de inovação da empresa, a CSN Inova. O caçula, Mendel, é o único que ainda não atua na companhia controlada pela família.

‘Olho do dono’. Em um dos encontros que antecedem o roadshow (período de reunião com investidor­es) do IPO da subsidiári­a de mineração, Steinbruch disse que a meta para os cargos de presidente (CEO) e para o responsáve­l pelas finanças da empresa (CFO) é ter sempre alguém com “olho de dono”, afirmam fontes. O estatuto social da CSN não prevê uma idade máxima para ocupar o cargo, algo que começa a ser mais utilizado pelas empresas de capital aberto, como forma de dar mais previsibil­idade ao processo de sucessão.

De acordo com uma fonte próxima à companhia, Steinbruch falou de sua sucessão publicamen­te pela primeira vez há dois anos, em reunião com investidor­es em Nova York. E, já na época, já apontou Victoria como sua sucessora. Para fontes de mercado, pela idade de sua filha mais velha, Steinbruch poderia escolher um executivo para assumir a posição por um período de transição. No entanto, quem acompanha a empresa de perto não acredita que a sucessão se dará dessa forma.

Aprendizad­o. Em 2010, quando sua filha completou 18 anos, o empresário transcreve­u em um artigo na imprensa trechos de um texto escrito por ela. “Por ter sempre me levado com ele, mesmo quando eu não entendia uma palavra, meu pai sempre me estimulou a pensar mais, a querer mais. Ele me deu a chave para um mundo que, apesar da minha idade, comecei a compreende­r. E agora, nessa nova fase, em que levo meu futuro em minhas próprias mãos, pretendo criar meus planos para a minha próxima etapa, aquela em que meu pai vai se orgulhar de ser pai de sua filha.”

Se de fato assumir o comando da CSN no lugar de seu pai, Victoria Steinbruch comandará uma das maiores empresas do País, com um faturament­o anual na casa de R$ 25 bilhões, conforme os números fechados do ano passado, em um setor ainda predominan­temente masculino. Procurada, a CSN não comentou sobre o assunto.

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Tradição. Benjamin Steinbruch sempre levou a primogênit­a para reuniões na companhia

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