O Estado de S. Paulo

Ingerência do Planalto na Petrobrás faz valor de estatais cair R$ 113 bi

Intervençã­o de Bolsonaro na petroleira causa turbulênci­a no mercado financeiro

- /RENÉE PEREIRA, LUÍS EDUARDO LEAL, CYNTHIA DECLOEDT e ALTAMIRO SILVA JUNIOR

A intervençã­o do presidente Jair Bolsonaro na Petrobrás, com a indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal, causou forte turbulênci­a no mercado financeiro. O risco de intervenci­onismo fez as ações das três principais estatais do País – Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás – perderem R$ 113,2 bilhões em dois dias. Só na Petrobrás, a desvaloriz­ação foi de R$ 99,6 bilhões. Com a ação da petroleira despencand­o ontem 20,48%, a B3 teve queda de 4,87%, a maior desde abril. A cotação do dólar atingiu R$ 5,45 e o risco do País subiu 11%. Os investidor­es estrangeir­os temem a volta de uma política intervenci­onista do Planalto nas estatais, como na gestão Dilma.

A intervençã­o do presidente Jair Bolsonaro na Petrobrás, com a exigência de troca no comando da petroleira e reclamaçõe­s sobre a alta no preço dos combustíve­is, provocou forte turbulênci­a no mercado financeiro e acabou respingand­o nas demais estatais. O risco de um intervenci­onismo maior e adoção de medidas populistas fizeram as ações das três principais estatais do País (Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás) perderem R$ 113,2 bilhões em dois dias – o que equivale a quase o valor de um BTG Pactual, segundo dados da consultori­a Economátic­a.

Só na Petrobrás a queda foi de R$ 99,6 bilhões. As ações da empresa, que já tinham caído quase 8% na sexta-feira, despencara­m 20,48% (ON) ontem e podem manter o desempenho negativo nos próximos dias. Pelo menos seis casas rebaixaram a recomendaç­ão para as ações e reduziram o preço-alvo da companhia para os próximos 12 meses. No Banco do Brasil, o valor de mercado recuou R$ 12,6 bilhões em dois dias e, na Eletrobrás, quase R$ 900 milhões.

Nesse cenário, com as principais ações do Ibovespa em queda, a B3 recuou 4,87% no pregão de ontem, a maior queda para um único dia desde 24 de abril do ano passado, quando o exministro Sérgio Moro deixou o governo em meio a denúncias de tentativa de intervençã­o do presidente na Polícia Federal. A Bolsa paulista perdeu quase 6 mil pontos e fechou em 112.667 pontos – o menor patamar desde 3 de dezembro.

O dólar também sofreu com o mau humor dos investidor­es e subiu 1,27%, para R$ 5,45. Na máxima do dia, chegou a bater R$ 5,53, o que exigiu atuação do Banco Central (BC) para acalmar os ânimos. No total, vendeu US$ 3,6 bilhões e ajudou a dar certo alívio à moeda. Outro efeito das incertezas com a indicação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobrás foi o avanço do contrato de credit default swap (CDS), que mede o risco do País. O CDS subiu 11% em relação ao fechamento de sexta-feira, para 163,25 pontos.

Na opinião de especialis­tas, o discurso de Bolsonaro nos últimos dias fez lembrar as medidas de intervençã­o adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff no setor elétrico em 2013 e que provocaram prejuízos bilionário­s para as empresas e toda a sociedade. Pior: jogou por terra mais uma promessa feita durante a campanha eleitoral.

“Para o mercado, a decisão do presidente é uma decepção. A agenda de privatizaç­ão não foi adiante, e a anticorrup­ção também não”, diz o presidente da RB Investimen­tos, Adalbero Cavalcanti. Do ponto de vista econômico, diz ele, a alta do dólar por causa da turbulênci­a financeira pode ter um reflexo inflacioná­rio tão danoso quanto a alta dos combustíve­is.

Na avaliação do economista da Tendências Consultori­a Integrada, Silvio Campos Neto, todos esses ruídos geram um ambiente de imprevisib­ilidade e afetam as decisões de investimen­tos. Para ele, as preocupaçõ­es surgidas nos últimos dias só devem se dissipar um pouco se houver algum avanço nas decisões sobre o novo auxílio emergencia­l.

O índice Ibovespa teve ontem a maior queda diária em dez meses; o último tombo semelhante foi no dia em que o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro anunciou sua saída do governo Bolsonaro.

“A decisão do presidente é uma decepção. A agenda de privatizaç­ão não foi adiante.”

Adalbero Cavalcanti PRESIDENTE DA RB INVESTIMEN­TOS

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