O Estado de S. Paulo

Proposta não vincula novo auxílio a corte de despesas

Nova rodada de pagamentos não será vinculada a corte de despesas, neste momento, para compensar o gasto adicional

- / ADRIANA FERNANDES, DANIEL WETERMAN, IDIANA TOMAZELLI e MURILO RODRIGUES ALVES

A nova rodada do auxílio emergencia­l deve ser autorizada pelo Congresso sem vinculação direta a medidas de corte em despesas para compensar o gasto adicional, como queria a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo relatório do senador Márcio Bittar (MDB-AC) para a PEC do “novo marco fiscal”, a adoção de medidas de corte de gastos dependerá de decretação de estado de calamidade.

A nova rodada do auxílio emergencia­l deve ser autorizada pelo Congresso sem uma vinculação direta a medidas de corte em despesas para compensar o gasto adicional, como queria a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. A adoção de outras medidas com impacto fiscal, porém, dependeria de um novo decreto de calamidade, que acionaria automatica­mente gatilhos de contenção de gastos, incluindo novo congelamen­to de salário de servidores.

A minuta da PEC apenas abre caminho para que uma lei discipline o pagamento do auxílio fora das amarras fiscais. O governo, porém, já tem delineados os principais parâmetros da nova rodada. A equipe econômica trabalha para que o valor total não ultrapasse os R$ 40 bilhões, com quatro parcelas de R$ 250 a serem pagas em março, abril, maio e junho a até 40 milhões de brasileiro­s. Nem todo esse gasto virá do crédito extraordin­ário, uma vez que beneficiár­ios do Bolsa Família já recebem em média R$ 190 por mês do programa. Nesses casos, o Orçamento do Bolsa banca o benefício regular, e o dinheiro do auxílio o complement­o do que falta.

O formato consta em minuta do relatório do senador Marcio Bittar (MDB-AC), obtida pelo Estadão. O texto permite que o auxílio seja pago sem uma nova calamidade, por meio de crédito extraordin­ário fora do teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) e sem interferir no esforço que a equipe econômica precisa fazer para atingir a meta de primário, que permite rombo de até R$ 247,1 bilhões. Trata-se de uma “via rápida” para tirar o benefício do papel.

Ao mesmo tempo, a proposta cria um novo marco fiscal a ser acionado em futuros casos de calamidade nacional, com autorizaçã­o para gastar de um lado, mas, de outro, responsabi­lidade de puxar o freio naquilo que não for considerad­o essencial. A calamidade precisa ser decretada pelo Congresso, e nada impede que haja uma iniciativa deste tipo ainda este ano. Integrante­s da equipe econômica, porém, não veem essa necessidad­e, pois o auxílio já terá sido destravado.

A PEC traz dois tipos de marcos: um para calamidade­s nacionais, como a da covid-19, e outro para episódios em que as despesas correntes de Estados e municípios superam 95% de suas receitas correntes (no caso da União, a proporção é despesa obrigatóri­a superior a 94% do gasto total). Os gatilhos são semelhante­s e incluem congelamen­to de salários e criação de novas vagas no serviço público.

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