O Estado de S. Paulo

• Saúde e educação

Caso texto seja aprovado, parlamenta­res vão decidir ano a ano os gastos das duas áreas

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes Daniel Weterman

PEC que recria o auxílio emergencia­l prevê o fim dos mínimos de gastos em saúde e educação.

A minuta da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que recria o auxílio emergencia­l prevê o fim do mínimo de gastos em saúde e educação para a União, Estados e municípios.

A proposta já havia sido cogitada pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, no fim de 2019, quando foi enviada a PEC do pacto federativo, mas perdeu força diante da forte resistênci­a. Como resultado, a proposta foi de apenas fundir os gastos mínimos nas duas áreas para que os gestores tivessem mais flexibilid­ade na aplicação dos recursos. Agora, o relator, senador Marcio Bittar (MDBAC), retoma a ideia original.

Hoje, os Estados e o Distrito Federal precisam destinar 12% das receitas com impostos às ações de saúde. Os municípios têm de aplicar o equivalent­e a 15%. Na União, esse porcentual também era de 15% da receita corrente líquida até 2017, quando o piso passou a ser atualizado pela inflação.

No caso da educação, o mínimo é de 25% das receitas com impostos para Estados e municípios. Na União, o piso era de 18% até 2017, quando o valor passou a ser atualizado pela inflação.

Desde a década de 1930, quando a Constituiç­ão passou a prever porcentual de aplicação mínima na educação, o piso deixou de existir apenas em períodos autoritári­os: durante o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1946) e no período de 1967 a 1988, sob a Carta outorgada pelo Regime Militar. Já a vinculação da saúde foi incluída na atual Constituiç­ão, vigente já há mais de 30 anos.

O texto, ao qual o Estadão/broadcast teve acesso, tem a marca de horário de 22h25 de domingo e foi encaminhad­o às lideranças para uma rodada de avaliação, antes de ser protocolad­o pelo relator. Por isso, ainda pode sofrer alterações. Na minuta, os artigos da Constituiç­ão que preveem os mínimos em saúde e educação são simplesmen­te revogados.

“As vinculaçõe­s têm uma razão de ser. O jabuti sobe na árvore e está lá em cima por uma razão, não sobe sozinho. A Constituiç­ão de 1988, que colocou isso como prioritári­o, tinha o objetivo de garantir fatias do Orçamento para áreas essenciais. Mudar isso não é trivial. É mais um ponto que vai exigir longa discussão”, afirmou o diretor executivo da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado, Felipe Salto.

“A desvincula­ção não pode ser aprovada de forma aligeirada e oportunist­a. Os recursos da educação precisam ser protegidos das pressões de curto prazo e do populismo”, criticou, em nota, o Todos Pela Educação. Para o movimento, a desvincula­ção pode levar a uma “redução substancia­l” dos gastos públicos com educação.

Orçamento livre. A versão do relatório também revoga outros dispositiv­os, como o repasse de 28% das receitas do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) ao Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), medida já tentada na reforma da Previdênci­a, mas que acabou não avançando.

Bittar também sugere revogar o artigo que previa a criação de uma linha de crédito subsidiada pela União para Estados e municípios pagarem precatório­s (valores devidos após sentença definitiva na Justiça). Esse artigo, aprovado numa emenda constituci­onal de 2017, está no centro de uma polêmica.

Técnicos avaliam que o trecho foi mal redigido e abre brecha para que a União tenha de alocar mais de R$ 100 bilhões para os governos regionais pagarem seus precatório­s, o que poderia compromete­r as finanças do governo federal.

O parecer ainda revoga duas hipóteses que permitem à União intervir em Estados ou municípios. Uma delas é quando o ente deixa de pagar sua dívida fundada por mais de dois anos. A outra, válida apenas para Estados, é quando se deixa de repassar receitas tributária­s previstas na Constituiç­ão a municípios no prazo estipulado.

“Mudar isso não é trivial. É mais um ponto que vai exigir longa discussão”

Felipe Neto DIRETOR DA IFI

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-5/10/2020 Relator. Bittar sugere revogar ainda o repasse de 28% da receita do FAT para o BNDES

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