Reino Unido sairá de lockdown até junho
Após 47 dias de fortes restrições, o registro de novos casos caiu 79%, o de mortes, 61%, e o de internações, 62%; plano para retomada das atividades terá quatro etapas e começa pela reabertura de todas as escolas e universidades em março e deve se estende
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou ontem um plano em quatro etapas, que devem ser cumpridas até 21 de junho, para relaxar as restrições impostas pelo terceiro lockdown decretado pelo governo do Reino Unido. Após 47 dias de confinamento em todo o país, a média móvel diária de novos casos caiu 79%, passando de 59 mil para 12 mil. Também houve uma redução no número de internações e mortes, e a vacinação está adiantada em comparação com a de outros países da Europa.
No plano apresentado por Johnson ao Parlamento, o primeiro passo será o retorno de todos os estudantes às aulas em 8 de março. As máscaras serão obrigatórias para alunos universitários e do ensino médio (mais informações nesta página).
“Não podemos continuar indefinidamente com as restrições que prejudicam nossa economia, nosso bem-estar físico e mental”, disse Johnson. “Por isso, é essencial que este plano seja prudente e também irreversível.”
Para a infectologista Ana Luiza Gibertoni, brasileira que trabalha no serviço nacional de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) e cursa doutorado na Universidade de Oxford, durante o afrouxamento das medidas é preciso que haja um acompanhamento da evolução da pandemia. “A retomada precisa ser gradual para dar tempo de observar os números e, se necessário, voltar com as medidas severas de isolamento”, explicou.
O país registra uma queda nas mortes. Em 19 de janeiro o país atingiu o pico, com média móvel diária de 1.280 mortes. Em 12 de fevereiro, a média de mortes por dia caiu para 494, uma redução de 61%.
Outra consequência visível do lockdown é a diminuição do número de internações. A frase “Fique em casa, proteja o NHS” virou um símbolo e pode ser vista em pontos de ônibus, letreiros luminosos e em anúncios governamentais nas redes sociais.
A média móvel diária de pacientes que dão entrada em hospitais com covid-19 chegou ao pico de 4.230 em 9 de janeiro. No dia 12 de fevereiro, último dado do governo, o número estava em 1.583, uma redução de 62,5%. “O Reino Unido conseguiu provar que o lockdown é uma boa medida para conter o coronavírus”, disse Ana Luiza. Segundo a infectologista, outro fator que pesa bastante na estratégia britânica de contenção do coronavírus é a testagem em massa. Todo mês, 150 mil pessoas são testadas aleatoriamente em um monitoramento feito pelo Imperial College.
Johnson também atribuiu os bons resultados à campanha de vacinação eficiente. Um a cada três britânicos já recebeu uma dose – 15 milhões, incluindo idosos que estão em asilos do país. “Acredito que o programa de vacinação mudou a situação a nosso favor”, afirmou Johnson. O governo prometeu que todos os adultos receberão uma primeira injeção até o fim de junho, antecipando esta meta inicialmente prevista para setembro.
Ana Luiza disse considerar que ainda é cedo para ter essa avaliação. “Um estudo do Imperial College mostrou que a redução do número de casos foi proporcional nas faixas etárias”, diz. Segundo ela, se a vacinação já estivesse contribuindo com os números, deveria haver uma redução maior nos casos entre pessoas maiores de 65 anos.
O terceiro lockdown foi decretado no país no início de janeiro após um aumento nos casos por causa de uma mutação mais contagiosa do vírus.