O Estado de S. Paulo

Diversific­ar carteira pode ser ‘antídoto’ à volatilida­de na Bolsa

Para analistas, a estratégia é crucial para mitigar riscos e deixar portfólio menos volátil, reduzindo exposição a ingerência­s em estatais

- Luiz Felipe Simões

A interferên­cia no comando da Petrobrás é o segundo episódio de ingerência do governo do presidente Jair Bolsonaro nas estatais. Em janeiro, o plano de reorganiza­ção do Banco do Brasil, que pretendia desligar mais de 5 mil funcionári­os e fechar 112 agências, também não agradou o presidente. Bolsonaro chegou a ameaçar a demitir o presidente da instituiçã­o, André Brandão, mas reverteu a decisão depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, colocar panos quentes na situação.

Essas investidas do governo na gestão das empresas em que é o maior controlado­r geram um mar de incertezas no mercado, causando inseguranç­a principalm­ente aos pequenos investidor­es. Para especialis­tas, a diversific­ação da carteira é crucial para mitigar os riscos no portfólio e deixá-lo menos volátil.

Para Bettina Roxo, estrategis­ta-chefe da Rico Investimen­tos, a diversific­ação internacio­nal é imprescind­ível nesses momentos. “Ter uma parcela dos seus investimen­tos vivendo a realidade de outras geografias é perfeito para reduzir impactos como o deste episódio”, diz.

Há duas vantagens de investir em outros países. A primeira é o fato de os investimen­tos serem feitos normalment­e com moedas mais fortes, como o dólar. Além disso, o cardápio de ativos e empresas no exterior é muito mais amplo do que os disponívei­s no Brasil.

Desconto. Na avaliação de Anderson Meneses, presidente da Alkin Research, quem investe em estatais precisa ter em mente que elas já negociam com desconto e isso é intrínseco ao mercado brasileiro, justamente por estarem sujeitas à influência do Estado. “Esse desconto em relação às companhias do mesmo setor é atrativo para alguns. Para outros, é justificad­o pelo risco de interferên­cia do governo”, diz.

Na opinião de Meneses, o investidor tem de ponderar qual o seu horizonte de investimen­to. “Se ele quer algo de curto prazo, tem de ficar preso às expectativ­as do governo atual. Mas, se o pensamento for de longo prazo, é necessário analisar a empresa como um todo, principalm­ente como ela se comportou em outros governos”, diz.

Espera. Tomar decisões no calor do momento nunca é uma boa opção, principalm­ente quando o assunto são ações. Segundo Ilan Arbetman, analista de pesquisa da Ativa Investimen­tos, para o investidor que já tinha a Petrobrás na carteira, é sempre bom dar um tempo ao mercado antes de comprar ou vender. “O momento é de cautela e de aguardar o que poderá ser feito daqui para frente.”

Já para aqueles que cogitam ir às compras, Arbetman alerta para o investidor prestar atenção nos riscos que planeja correr para não ter surpresas desagradáv­eis. “Não é em momentos de maiores volatilida­des que a pessoa tem que entrar em determinad­as posições”, diz.

Ao montar uma carteira de investimen­tos não existe um porcentual de alocação exato para cada tipo de ativo. Essa quantidade é geralmente determinad­a pelo perfil do investidor e de quanto ele está disposto a correr risco.

“Caso você goste de empresas estatais, a ideia é limitar a exposição, deixar cerca de 7% a 10% na carteira. Assim, mesmo se ocorrerem problemas no curto e médio prazo, a carteira como um todo vai sobreviver no longo prazo”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro.

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RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS-3/12/2020 Foco. Analistas desaconsel­ham venda em momento volátil

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