O Estado de S. Paulo

Remuneraçã­o de executivo está em linha com o mercado

- Mariana Durão Vinicius Neder

Apontada ontem como excessiva pelo presidente Jair Bolsonaro, a remuneraçã­o – quando se soma salário fixo com bônus e outros benefícios – do comando da Petrobrás pode chamar atenção quando comparada com os demais cargos do serviço público e, principalm­ente, com o ganho médio do brasileiro, mas parece comum ou até abaixo da média no mundo corporativ­o.

O salário médio dos presidente­s de companhias abertas que compõem o Ibovespa – ou seja, as principais empresas do mercado – foi de R$ 11,3 milhões no ano em 2019. Principal executivo da Petrobrás, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões naquele ano, um quarto do valor médio. Em bases mensais, a remuneraçã­o média dá um salário de R$ 940 mil por mês, enquanto o presidente da Petrobrás ganhou “apenas” R$ 226 mil por mês.

No fim de 2019, a remuneraçã­o média do trabalhado­r brasileiro, entre formais e informais, foi de R$ 2,3 mil por mês, segundo o IBGE.

Os dados sobre executivos de alto escalão são de levantamen­to do especialis­ta em governança corporativ­a Renato Chaves, ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Os valores foram levantados em outubro, nas informaçõe­s que as empresas abertas são obrigadas a passar à Comissão de Valores Mobiliário­s, órgão regulador do mercado. As empresas precisam informar a remuneraçã­o anual total da diretoria, discrimina­ndo o valor mais baixo e o mais alto – o mais alto, quase sempre, é o do presidente.

O levantamen­to incluiu 71 companhias. Quando ordenadas segundo a maior remuneraçã­o paga ao presidente, a Petrobrás fica na posição 58. Entre as dez empresas que pagam melhor seus presidente­s, se destacam os bancos – Itaú, Bradesco e Santander estão entre as dez.

Para Marcelo Apovian, sócio da consultori­a global especializ­ada em recrutamen­to de executivos de alto escalão Signium, não parece que os valores de remuneraçã­o do presidente da Petrobrás estejam fora da realidade do setor de petróleo e gás, na média global. “A remuneraçã­o do primeiro nível e segundo nível está adequada com valores do mercado.”

Segundo Apovian, a remuneraçã­o dos executivos de alto escalão varia conforme o setor. Tradiciona­lmente, setores cujas margens de lucro são mais apertadas pagam menos. O setor de petróleo e gás, globalment­e falando, paga bem a seus executivos de alto escalão, porque é um “negócio que precisa ter pessoas boas e a margem (de lucro) permite pagar bem.”

Chaves, que levantou os dados sobre remuneraçã­o, avalia que o montante pago pela Petrobrás está dentro do normal para uma companhia estatal com ações em Bolsa. Por outro lado, o especialis­ta vê excessos nos salários médios pagos aos altos executivos do País. “A remuneraçã­o de presidente­s de companhias no Brasil é excessiva, quase sempre descolada de seus resultados e extremamen­te desigual em relação às dos demais funcionári­os”, diz Chaves.

O levantamen­to de Chaves comparou a remuneraçã­o do presidente de cada companhia com o salário médio pago aos funcionári­os como um todo. No caso extremo, o presidente ganha 600 vezes mais do que a média da empresa. No quesito desigualda­de, a petroleira está entre aquelas com menores diferenças, com oito vezes.

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