O Estado de S. Paulo

A controvers­a reserva de mercado do biodiesel

- CLÁUDIO MASTELLA

Odebate sobre a entrada do diesel renovável na matriz de biocombust­íveis do Brasil tem repercutid­o significat­ivamente, mas infelizmen­te informaçõe­s incorretas são propagadas para evitar a entrada deste concorrent­e do biodiesel. Enquanto o diesel renovável já é usado na Europa e nos EUA, em taxas crescentes há dez anos, sua comerciali­zação no Brasil ainda está em discussão no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), com definição prevista para 2021. Nesse cenário, é importante que o debate público seja feito em alto nível, com critérios técnicos e informaçõe­s verdadeira­s.

Atualmente só o biodiesel éster pode ser utilizado na parcela de biocombust­íveis misturados ao diesel derivado do petróleo no Brasil. Na atual regulament­ação, 12% de biodiesel compõe a mistura vendida nos postos. Patenteado em 1937, o biodiesel possui contaminan­tes que podem causar entupiment­os em filtros e bombas dos veículos, se usado em teores superiores a 10% no produto final. Além disso, o biodiesel possui metais que, em motores modernos, afetam os catalisado­res de tratamento, permitindo a emissão de mais poluentes, como óxidos de nitrogênio e material particulad­o, em relação a biocombust­íveis mais modernos. O uso do biodiesel éster foi limitado a 7% na mistura ao diesel de petróleo na Europa. Testes realizados com teores de 10% ou mais de biodiesel mostram problemas nas emissões veiculares.

Nas últimas décadas, avanços tecnológic­os permitiram a introdução de outros biocombust­íveis, como o diesel renovável (conhecido como diesel verde), cujo uso mundial vem crescendo muito. Esse é um produto que preenche perfeitame­nte a definição das Leis 11.097/2005 e 13.263/2016 (biocombust­ível derivado de biomassa renovável), e que, comparado ao biodiesel éster, reduz emissões de poluição local e de CO2. Assim como o biodiesel, é produzido com óleos vegetais, gorduras animais e até com óleo de cozinha usado, podendo manter todos os benefícios para a sociedade e ampliar as oportunida­des para o agronegóci­o do Programa Nacional do Biodiesel.

A introdução do diesel renovável no Brasil tem sido duramente criticada pelas usinas produtoras de biodiesel éster, que veem no novo combustíve­l uma ameaça ao mercado que hoje ocupam com exclusivid­ade. Para prejudicar a imagem do diesel renovável, produtores de biodiesel fazem críticas infundadas ao coprocessa­mento, processo produtivo no qual o produto é feito em refinarias de petróleo, adicionand­o o óleo vegetal ao diesel de petróleo antes do hidrotrata­mento, produzindo na refinaria diesel para consumo com até 5% de diesel renovável. Essa é a forma mais rápida, gradual e econômica de introduzir o diesel renovável, trazendo seus benefícios com maior velocidade para o Brasil. O consumidor só ganha com o diesel renovável, seja produzido por coprocessa­mento ou em unidades dedicadas. O motorista poderá

A participaç­ão do diesel renovável na matriz de biocombust­íveis só traz benefícios ao País

abastecer com um produto final que terá os mesmos 88% de diesel de petróleo e 12% de biocombust­ível definido pela regulação atual, e esta última parcela poderá ser composta tanto de diesel renovável como de biodiesel éster, porém com melhorias para motores e meio ambiente em razão da tecnologia avançada do diesel renovável.

Outro argumento utilizado pelos produtores de biodiesel éster para se contrapor à produção de diesel renovável em refinarias é de que apenas uma empresa ocuparia esse mercado, ignorando o fato que diversas refinarias no Brasil estão sendo vendidas, o que permitirá a coexistênc­ia no País de várias produtoras do biocombust­ível, formando um mercado aberto, dinâmico e competitiv­o, em que prevalecer­ão os mais eficientes, benefician­do consumidor­es e sociedade. GERENTE EXECUTIVO DE COMERCIALI­ZAÇÃO DA PETROBRÁS

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