O Estado de S. Paulo

Presidente do BB coloca cargo à disposição

Saída de André Brandão, ainda não confirmada oficialmen­te, abre corrida política pelo posto; o presidente Jair Bolsonaro já havia ameaçado demitir o executivo após anúncio de plano de enxugament­o de agências e corte de pessoal do banco

- ADRIANA FERNANDES, MARCELO DE MORAES e MURILO RODRIGUES ALVES

O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, colocou seu cargo à disposição. O desentendi­mento entre ele e Jair Bolsonaro começou quando o presidente criticou o plano, elaborado por Brandão, de enxugament­o de agências e corte de pessoal do banco. As ações do Banco Brasil fecharam em queda de 4,92% na Bolsa.

O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, avisou o presidente Jair Bolsonaro que colocou o cargo à disposição, o que deflagrou uma corrida política pela sua vaga. Brandão deu “carta branca” para a escolha do seu substituto, já que não houve entendimen­to entre ele e Bolsonaro desde quando o presidente criticou o plano de enxugament­o de agências e corte de pessoal do banco. Nos bastidores, a “fritura” de Brandão continuou mesmo após Bolsonaro ter sido convencido pela equipe econômica em mantê-lo.

Oficialmen­te, o banco afirmou a investidor­es que não houve pedido de renúncia de Brandão. Embora a saída não seja confirmada e não tenha ainda data para ocorrer, a disputa pelo posto movimenta alguns dos principais grupos políticos da Esplanada.

Integrante­s da ala militar gostariam de ver no cargo o atual secretário executivo do Ministério da Cidadania, Antônio Barreto Junior, que pode deixar o posto com a posse do novo ministro João Roma. Ele é funcionári­o de carreira do Banco do Brasil e também foi secretário executivo da Casa Civil.

Na equipe econômica, a movimentaç­ão é em torno de deslocar o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para o BB. Além de ter passado pela presidênci­a do BNDES substituin­do Joaquim Levy ainda no primeiro ano do governo, Montezano também é amigo do ministro Paulo Guedes e dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

Dentro do banco, o nome do vice-presidente de agronegóci­o e governo, João Rabelo Júnior, também é bem visto internamen­te e tem simpatia de integrante­s da bancada do agronegóci­o. Outro nome que está no radar é o do presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, que tem apoio do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e do Centrão.

Desde a semana passada, quando o presidente Jair Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e ameaçou com novas mudanças do tipo “tubarão e não bagrinho”, os olhos se voltaram para André Brandão. O presidente do BB já tinha sido demitido extraofici­almente por Bolsonaro, que depois recuou da decisão. No rastro da Petrobrás, os aliados políticos do presidente aumentaram a pressão.

Segundo apurou o Estadão, uma nova movimentaç­ão em torno da saída de Brandão começou nessa sexta-feira, logo no início da manhã, depois que começaram a circular informaçõe­s de que ele sinalizou a intenção de deixar o cargo ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O presidente do BC é amigo de Brandão e padrinho da indicação do seu nome para a presidênci­a do BB.

Assessores de André Brandão no BB contam que a gestão dele no banco ficou fragilizad­a desde o episódio com o presidente Bolsonaro por conta da política de fechamento das agências, que recebeu críticas de políticos bolsonaris­tas.

Sem desgaste. Fontes ouvidas pelo Estadão informaram que Brandão quer evitar um desgaste público como o ocorrido com o presidente da Petrobrás. Antes da gestão de Rubens Novaes, que antecedeu Brandão, o BB tinha duas vice-presidênci­as das nove ocupadas por políticos. Novaes cortou esses cargos e alimentou a pressão contra o BB da ala política.

Brandão assumiu o comando do BB há apenas cinco meses. Além de Castello Branco, Bolsonaro já mandou demitir dois auxiliares de Guedes que bateram de frente com ele. No primeiro ano de mandato, o presidente decidiu demitir o então secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, porque considerou que a discussão sobre a criação de um imposto nos moldes da CPMF se tornou “pública demais”. Embora tivesse apoio da equipe econômica, o assunto gerou polêmica e não agradou aos seus apoiadores.

Bolsonaro também influencio­u na mudança de comando de outro banco público ainda em 2019. Ele disse que o então presidente do BNDES, Joaquim Levy, estava com “a cabeça a prêmio” durante conversa com jornalista­s. No dia seguinte, Levy pediu demissão do cargo.

Mercado reage. As ações do Banco do Brasil fecharam em queda de 4,92% na Bolsa brasileira de pois das notícias sobre a saída de Brandão. /

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ALAN SANTOS/PR-22/9/2020 Brandão. Segundo BB, não houve pedido de renúncia

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