O Estado de S. Paulo

Estados apertam restrições; especialis­tas pedem maior rigor

RS, PR, SC, DF e BA vão fechar comércio; Bolsonaro diz que governador­es terão de pagar auxílio emergencia­l

- /PAULO FAVERO, MARIANA HALLAL, RENATA OKUMURA, VINICIUS VALFRÉ, MATEUS VARGAS, MARCIO DOLZAN, JOSÉ MARIA TOMAZELA, FÁBIO BISPO, PEDRO JORÃO e JÚLIO CÉSAR LIMA, JOÃO MAGALHÃES e ISABELA LOPES, ESPECIAIS PARA O ESTADÃO

Governos de diversos Estados vêm adotando medidas cada vez mais duras para tentar frear o avanço acelerado da covid-19 e evitar um colapso generaliza­do no sistema de saúde. Restrições de circulação de pessoas, em especial à noite, fechamento de estabeleci­mentos comerciais e lockdown são as providênci­as mais comuns. Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Bahia vão fechar comércio e serviços não essenciais. Com UTIS lotadas, o foco é evitar aglomeraçõ­es para tentar reduzir a propagação de novas cepas do coronavíru­s. Boletim do Observatór­io Covid-19, da Fiocruz, aponta 17 capitais brasileira­s com ocupação de leitos de UTI de pelo menos 80%. Infectolog­istas e outros profission­ais de saúde temem piora do quadro e defendem ações ainda mais rígidas para conter o coronavíru­s. O presidente Jair Bolsonaro, porém, afirmou ontem no Ceará que o governador que adotar medidas restritiva­s deverá bancar novas rodadas do auxílio emergencia­l. “Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabi­lidade”, afirmou.

Foco é evitar aglomeraçõ­es e reduzir transmissã­o do vírus, o que demora dias. Especialis­tas temem piora do quadro nas próximas semanas e defendem ações mais rígidas; boletim do Observatór­io Covid-19, da Fiocruz, aponta 17 capitais com ocupação de UTI de pelo menos 80%

O cresciment­o da pandemia no Brasil mobilizou Estados para tentar frear o avanço acelerado da covid-19. Vários governos decretaram nos últimos dias restrições de circulação de pessoas, principalm­ente no horário noturno, fechamento de estabeleci­mentos comerciais e até lockdown. Entre os mais restritivo­s estão Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Bahia, que vão fechar serviços não essenciais.

Com UTIS lotadas, o foco é evitar aglomeraçõ­es e reduzir a transmissã­o do vírus no País, o que demora ao menos duas semanas, dizem especialis­tas. Boletim do Observatór­io Covid19, da Fiocruz, aponta 17 capitais com ocupação de leitos de UTI de pelo menos 80%.

Anteontem, o Brasil teve o maior número de mortes registrada­s em 24 horas, em um cenário de vacinação lenta. Especialis­tas temem piora do quadro nas próximas semanas e defendem ações mais rígidas para conter a doença – alguns pedem até lockdown (mais informaçõe­s nesta página). Também preocupa a circulação de novas variantes do vírus, como a de Manaus, que estudos preliminar­es já mostraram ser mais contagiosa.

O governador Ibaneis Rocha (MDB), do DF, tornou mais rígida a quarentena duas vezes em menos de 24 horas. Anteontem, ele escreveu nas redes sociais que iria decretar lockdown, a partir de segunda, das 20 às 5 horas. Ontem, publicou decreto mais rígido, que prevê fechar serviços não essenciais o dia todo, a partir de domingo. Podem abrir em Brasília farmácias e supermerca­dos, por exemplo. Cultos e missas foram dispensado­s do lockdown.

No Paraná e no Rio Grande do Sul, a proibição de atividades não essenciais começa hoje e vai até 8 de março. A fila geral por leitos em hospitais paranaense­s, por exemplo, era de 578 pessoas ontem. Em Porto Alegre, cinco hospitais – Moinhos de Vento, Vila Nova, São Lucas (PUC), Restinga e Santa Ana – tinham lotação igual ou maior do que 100%. O governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), pediu a adesão de gestores e cidadãos. Já o prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), criticou o fechamento total. O presidente Jair Bolsonaro também tem sido forte opositor (veja ao lado). No interior, Gramado montou barreiras sanitárias para evitar turistas.

Santa Catarina e Bahia, por sua vez, apostaram em lockdown mais curto. O governo baiano proibiu lojas, shoppings, bares e restaurant­es por dois dias, desde ontem à noite. Já Santa Catarina, com lotação de UTIS no nível de 95%, colocou todo o Estado em lockdown nos próximos dois fins de semana. Mais de cem pessoas aguardavam vaga na terapia intensiva ontem, segundo apurou a reportagem com secretário­s municipais. A Secretaria Estadual da Saúde não comentou.

Em outros Estados, as mudanças

O sistema de saúde de Rondônia chegou ao limite: todos os 317 leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 estão ocupados. O governo estuda formas de fazer transferên­cias.

foram menos rigorosas, a maioria com quarentena­s noturnas. São Paulo aumentou o controle sobre três regiões do Estado, incluindo a capital e a região metropolit­ana e terá restrição de circulação à noite (leia mais na pág. 20). Ceará, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte são os outros em que governador­es ou prefeitos endurecera­m medidas nas últimas semanas.

Reforço. Os gestores também buscam leitos na rede privada para aliviar a pressão. A gestão João Doria (PSDB) cogita expandir a estrutura paulista do uso de vagas de unidade privada, além de ter reaberto o Hospital de Campanha de Heliópolis, na zona sul, neste mês.

Em Pernambuco, o reforço com leitos da rede particular também é uma alternativ­a. A expectativ­a do governo é de contratar 300 leitos de enfermaria e 150 de UTI para adultos.

O governador Paulo Câmara (PSB) também disse que a polícia vai fiscalizar o cumpriment­o do novo decreto, que prevê toque de recolher das 22 às 5 horas a partir de hoje e até 10 de março. “Caso os índices permaneçam piorando, novas medidas restritiva­s serão anunciadas já no início da próxima semana”, alertou.

“O sistema de saúde e as equipes estão sobrecarre­gados, mas a população, no geral, é como se estivesse alheia. Isso angustia a gente. É uma sensação de que não vai melhorar e a gente segue a enxugar gelo”, diz o médico Silvio Cajueiro, há um ano na linha de frente nas redes pública e privada do Estado.

No Piauí, a falta de medicament­os torna a situação mais delicada. “A taxa de ocupação dos leitos é altíssima, preocupa, mas a principal dificuldad­e neste momento é que as empresas não estão com capacidade de produção de alguns bloqueador­es neuromuscu­lares, que são usados na anestesia a pacientes entubados e estamos com restrição de medicament­os”, disse ao Estadão o presidente da Fundação Municipal de Saúde de Teresina, Gilberto Albuquerqu­e. A cidade registrou 100% de ocupação nas UTIS da rede municipal na terça, mas abriu mais dez leitos.

 ?? LEANDRO MARTINS / ESTADÃO ?? Porto Alegre. Hospital de Clínicas opera quase no limite
LEANDRO MARTINS / ESTADÃO Porto Alegre. Hospital de Clínicas opera quase no limite
 ?? LEANDRO MARTINS / ESTADÃO ?? Hospital de Clínicas de Porto Alegre. As UTIS estão sem vagas e governador pediu adesão de gestores e cidadãos, mas enfrenta resistênci­a a medidas
LEANDRO MARTINS / ESTADÃO Hospital de Clínicas de Porto Alegre. As UTIS estão sem vagas e governador pediu adesão de gestores e cidadãos, mas enfrenta resistênci­a a medidas

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