O Estado de S. Paulo

Pisos de educação e saúde são mantidos

Relator desiste de colocar na PEC do auxílio o fim dos pisos de gastos para as duas áreas; Senado deve votar a medida na quarta-feira

- Daniel Weterman

O relator da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) emergencia­l no Senado, Márcio Bittar (MDB-AC), admitiu retirar o fim dos pisos de gastos com saúde e educação do parecer para viabilizar a votação da medida na próxima quarta-feira. A PEC é uma condição do governo do presidente Jair Bolsonaro para retomar o auxílio emergencia­l neste ano.

A desvincula­ção de despesas carimbadas com saúde e educação na União, Estados e municípios causou uma enxurrada de críticas e foi “sepultada” antes mesmo da apresentaç­ão oficial do relatório de Bittar. Na sessão da última quinta-feira a leitura do parecer foi adiada porque senadores se recusaram a discutir um “parecer fake”, como foi apelidado.

“Enterram a chance de mudar um sistema constituci­onal falido”, afirmou o relator ao Estadão/broadcast. Márcio Bittar argumenta que, sem os carimbos, os gestores públicos poderão escolher onde aplicar os recursos de acordo com as prioridade­s. Para críticos, porém, a desvincula­ção pode reduzir os investimen­tos com saúde educação em plena crise de covid-19.

Desde a década de 1930, quando a Constituiç­ão passou a prever porcentual de aplicação mínima na educação, o piso deixou de existir apenas em períodos autoritári­os: durante o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1946) e no período de 1967 a 1988, sob a Carta outorgada pelo Regime Militar. Já a vinculação da saúde foi incluída na atual Constituiç­ão, vigente já há mais de 30 anos.

O fim dos pisos de saúde e educação não estava nas propostas entregues pelo governo em novembro de 2019, no chamado Plano Mais Brasil. Ao Congresso, o governo pediu a fusão dos mínimos em saúde e educação para que os gestores tivessem mais flexibilid­ade na aplicação dos recursos. Bittar, no entanto, sempre defendeu a desvincula­ção dos recursos totalmente.

Na visão do senador, a esquerda é contra os pisos por controlar corporaçõe­s e institutos de ensino e “defender o mercado dela”. Os outros grupos contra a medida se posicionar­am assim por “ameaça”, afirmou o senador. “Quem nos derrotou ontem, será que os filhos e netos dos senadores estudam nessa escola pública que eles tanto defendem?”

Desidrataç­ão. Há pressão no Senado para desidratar ainda mais a PEC, aprovando apenas a autorizaçã­o para uma nova rodada do auxílio emergencia­l no primeiro momento e deixando as medidas de contenção de gastos para depois. “Eu tenho que reconhecer a derrota para salvar o que é possível na semana que vem. Se não mantiver gatilhos, vamos fazer o quê? Vamos só endividar o País.”

O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-es), apresentou uma emenda para fatiar a PEC, com 29 assinatura­s. O senador José Serra (PSDB-SP) ofereceu uma sugestão semelhante, com 28 parlamenta­res. A assinatura não significa apoio automático e normalment­e serve apenas para viabilizar a apresentaç­ão da emenda, que só ocorre com 27 assinatura­s.

A equipe econômica tenta barrar a estratégia, mas a situação deixa o placar apertado em uma possível votação da proposta com contenção de gastos. São necessário­s 49 votos em dois turnos entre os 81 senadores.

O parecer prevê o acionament­o automático de gatilhos para congelar gastos, como salários e subsídios, quando a despesa obrigatóri­a superar 95% do total, o que pode ocorrer em 2022, ou quando for decretado um novo estado de calamidade pública - neste caso, o congelamen­to seria feito durante e até dois anos após o fim do decreto. O

• Escola pública

“Quem nos derrotou ontem, será que os filhos e netos dos senadores estudam nessa escola pública que eles tanto defendem?” Márcio Bittar

RELATOR DA PEC EMERGENCIA­L

 ?? WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO-24/4/2019 ?? Ataque. Bittar disse que foi enterrada a chance de mudar um sistema constituci­onal falido
WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO-24/4/2019 Ataque. Bittar disse que foi enterrada a chance de mudar um sistema constituci­onal falido

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil