O Estado de S. Paulo

Sem evidência científica, México imuniza antes pobres e indígenas

Profission­ais de saúde dizem que abordagem é irracional e imunização deveria ocorrer em cidades com mais casos

- / W.POST

Enquanto países de todo mundo debatem sobre quem deve ser vacinado primeiro, o México apresentou a própria abordagem não convencion­al – sem nenhuma base epidemioló­gica aparente. O governo do presidente populista Andrés Manuel López Obrador, que fez campanha com o slogan “primeiro os pobres”, está priorizand­o os cidadãos mais desfavorec­idos do país, usando a vacina como uma espécie de reparação por anos de marginaliz­ação.

Professore­s em vilas rurais, alguns dos agricultor­es mais pobres do país e membros idosos de comunidade­s indígenas distantes receberão vacinas contra o coronavíru­s antes de quase qualquer um dos habitantes das cidades do México que sofreram os piores surtos. Em muitos casos, os pobres rurais foram vacinados antes mesmo das equipes médicas encarregad­as de administra­r as vacinas.

É uma abordagem que os apoiadores de López Obrador respaldam – prova de que seu presidente está do lado certo da profunda divisão de classes do México. Mas, para muitos profission­ais de saúde pública, é cientifica­mente irracional a evidência de que a política está distorcend­o o impulso de vacinação. A maioria das comunidade­s que estão sendo priorizada­s teve um número de casos de coronavíru­s relativame­nte baixo. Muitas são cidades rurais onde o distanciam­ento social nunca foi um desafio.

“Essa é uma visão que não tem base em epidemiolo­gia”, disse Fernando Petersen Aranguren, secretário de Saúde do Estado de Jalisco. “Isso não tem nada a ver com saúde pública e não se concentra na necessidad­e de quebrar a cadeia de contágio.”

Aranguren queria distribuir doses em Guadalajar­a, a segunda maior cidade do México, onde mais de 71 mil pessoas foram infectadas com o vírus. Mas o governo federal, que tem controle quase total sobre a aquisição e distribuiç­ão de vacinas, deu a ele uma lista de pequenas cidades e vilarejos que disse para ele priorizar.

“Começar em grandes cidades com surtos maiores teria nos permitido reduzir nosso número de casos com muito mais eficácia”, argumenta Aranguren.

López Obrador, que contraiu covid-19 em janeiro, disse que só vai tomar a vacina quando houver doses suficiente­s na Cidade do México. O país registrou oficialmen­te 2 milhões de casos de contágios pelo novo coronavíru­s e mais de 182 mil mortes, mas os números são considerad­os subestimad­os.

“Essa é uma visão que não tem base em epidemiolo­gia. Isso não tem nada a ver com saúde pública e não se concentra na necessidad­e de quebrar a cadeia de contágio” Fernando Petersen Aranguren

SECRETÁRIO DE SAÚDE DO

ESTADO DE JALISCO

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