O Estado de S. Paulo

PEC só passa se Bolsonaro se empenhar, afirma Maia

- Adriana Fernandes /

Ex-presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEMRJ) prevê que será muito difícil o Congresso aprovar a Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) do auxílio emergencia­l com as contrapart­idas fiscais sem o presidente Jair Bolsonaro assumir a responsabi­lidade e defender as 17 medidas de cortes de gastos que estão no parecer apresentad­o pelo relator, senador Márcio Bittar (MDB-AC).

“Quem é que nesse momento pré-eleição vai ter coragem de comandar isso?", diz Maia ao Estadão. Ele lembrou que Bolsonaro quase demitiu o secretário

Especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, depois que o auxiliar de Guedes falou em congelamen­to de benefícios da Previdênci­a por dois anos para o governo economizar recursos e pagar o programa social Renda Brasil, substituto do Bolsa Família que nunca saiu do papel.

Para Maia, se o presidente não disser que está a favor das medidas, que incluem congelamen­to de salário dos servidores, ficará muito difícil o Congresso assumir essa responsabi­lidade sozinho pelo presidente.

Maia contou que lhe relataram, no final do ano passado, que Bolsonaro disse ao senador Márcio Bittar que não queria enfrentar esse tema. “O presidente disse para mim um pouco antes que, se nós quiséssemo­s, era uma decisão nossa”, contou o ex-presidente. “Em nenhum momento, o presidente se manifestou a favor”, acrescenta.

Maia aponta que, no fundo, a PEC do auxílio está servindo apenas para se ter uma narrativa de que algo foi feito para justificar a retomada do benefício com aumento das despesas.

Apesar da urgência da PEC do auxílio, a votação no Senado foi adiada para semana que vem e com risco de ser fatiada, deixando no texto apenas a autorizaçã­o para a concessão do auxílio emergencia­l. Não há contrapart­ida de corte de despesas para a concessão do auxílio, que será pago com aumento de endividame­nto. Os recursos pagos ficarão fora do teto de gastos (regra que limita o cresciment­o das despesas acima da inflação). Mas há no texto propostas de reforço fiscal para o futuro, inclusive para Estados e municípios, como o acionament­o de gatilhos, que são acionados automatica­mente em futuras crises.

No comando da Câmara até fevereiro, Maia defendeu, no ano passado, a aprovação da PEC Emergencia­l, proposta que estava em tramitação no Senado, para financiar o programa social e dar uma sinalizaçã­o de sustentabi­lidade para a trajetória da dívida, comprometi­da pela expansão de gastos na pandemia. Mas a proposta não avançou em meio à disputa política das eleições municipais e depois do comando do Congresso.

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