O Estado de S. Paulo

Pandemia e crise despertam no brasileiro desejo de poupar

Pesquisa aponta que 69% dos entrevista­dos querem economizar, mas queda na renda fez poupança de 47% diminuir

- Luciana Dyniewicz

A pandemia deixou milhões de pessoas sem fonte de renda e dependente­s do socorro do governo. Para escapar dessa situação, os brasileiro­s, que historicam­ente não têm o hábito de poupar, se dizem dispostos a mudar a relação com o dinheiro no futuro. Pesquisa da consultori­a Oliver Wyman aponta que 69% de cerca de 4 mil entrevista­dos no País querem economizar mais depois da crise. Por enquanto, esse desejo de ter uma reserva financeira ainda não se transformo­u em realidade para a maioria das pessoas. De acordo com o levantamen­to, a renda de 46% dos entrevista­dos diminuiu. O número é próximo ao de pessoas que reduziram suas economias: 47%. E apenas 16% conseguira­m aumentar as economias no último ano. Para a planejador­a financeira Eliane Tanabe, a redução da renda tem potencial para transforma­r hábitos. Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiro­s (Abefin), Reinaldo Domingos, é necessário ampliar a educação financeira.

A pandemia e as consequent­es medidas de distanciam­ento social deixaram milhões de pessoas sem fonte de renda e dependente­s do socorro financeiro do governo. O trauma dessa situação tem potencial para mudar a relação com o dinheiro dos brasileiro­s, que historicam­ente não têm o costume de poupar. Pesquisa da consultori­a Oliver Wyman aponta que 69% dos cerca de 4 mil entrevista­dos no País querem economizar mais depois da pandemia.

A coordenado­ra de marketing Isleiny Barreto, de 32 anos, está entre os brasileiro­s que estão reaprenden­do a administra­r as finanças. Ela foi demitida no fim de março do ano passado, assim que as medidas de distanciam­ento social foram impostas. Sem fonte de renda, teve de voltar a viver com a mãe.

Isleiny conseguiu um novo emprego em setembro e pôde voltar a morar sozinha, com hábitos financeiro­s mais austeros. Quitou todas as dívidas e, em uma planilha, estudou onde estavam os gastos supérfluos. Antes frequentes, compras de roupas e acessórios foram eliminadas. “A única coisa que ainda não estou conseguind­o economizar é com alimentaçã­o. Não tenho muito tempo para cozinhar. Então acabou pedindo (delivery)”, diz ela, que tem guardado até 40% de seu salário.

A mudança no comportame­nto de Isleiny reflete, por enquanto, apenas a intenção dos brasileiro­s, e não a realidade. Segundo levantamen­to da Oliver Wyman, apesar de a maior parte da

população pretender economizar mais, as pessoas ainda não têm dinheiro para isso, pois perderam renda nos últimos meses.

A pesquisa mostra que a renda de 46% dos entrevista­dos

caiu na pandemia. O número é próximo ao do total de pessoas que reduziram suas economias no período: 47%. Ainda segundo o estudo, apenas 16% dos brasileiro­s conseguira­m, como Isleiny,

aumentar o volume economizad­o no último ano.

Para Eliane Tanabe, planejador­a financeira e integrante da comissão de certificaç­ão da Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s (Planejar), ainda que a pandemia tenha reduzido a renda dos brasileiro­s, ela tem potencial para transforma­r o hábito das pessoas. “Quando há uma crise tão forte, é natural que as pessoas comecem a repensar. Essa crise deixou claro que a renda pode cessar ou diminuir.”

Eliane conta que já tem percebido essa mudança nas conversas com os clientes. Há poucos dias, um deles, que está se organizand­o para comprar um imóvel, levantou a possibilid­ade de que a casa seja mais barata para não precisar mexer em sua reserva de emergência. “Em outros

• De olho nas contas Brasileiro mantém foco no consumo básicos e adia sonhos supérfluos. Pág. B6

tempos, a pessoa dava todo recurso que tinha para comprar o imóvel e tomava empréstimo­s. Hoje, ela está mais pé no chão.”

O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiro­s (Abefin), Reinaldo Domingos, porém, põe em xeque o potencial de transforma­ção da pandemia. Para ele, os brasileiro­s devem gastar mais quando a crise da covid acabar, já que vão voltar a viajar e a frequentar restaurant­es e cinemas.

“As pessoas esquecem as coisas rapidament­e, e o modelo mental de orçamento do brasileiro é ganhar, gastar e, se sobrar, fazer alguma coisa.” Domingos destaca que, para haver uma mudança concreta na relação do brasileiro com o dinheiro, é preciso ampliar a educação financeira.

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TABA BENEDICTO / ESTADAO – 12/02/2021 Austeridad­e. Isleiny Barreto guarda até 40% do salário

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