O Estado de S. Paulo

‘Imunidade parlamenta­r não é plena’

Lira afirma que PEC dará ‘caminho’ para a Justiça em caso de prisão de deputados

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

Após sofrer a primeira derrota em plenário desde que assumiu o comando da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Arthur Lira (Progressis­tas-AL), fez ontem uma nova defesa da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que trata da imunidade parlamenta­r.

Segundo ele, a proposta é necessária para que se regulament­e o artigo 53 da Constituiç­ão, que trata da inviolabil­idade de deputados e senadores por opiniões, palavras e votos. Desta forma, segundo Lira, será possível “dar um caminho” à Justiça em casos como o do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), preso após ameaçar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Não pudemos regulament­ar este artigo, para dar um caminho, porque o Congresso errou em não regulament­ar. Tem que regulament­ar. Tem que discutir um caminho, para que haja punição exemplar”, disse Lira, durante evento virtual do Grupo Prerrogati­vas, que reúne profission­ais da área do Direito.

“O direito à imunidade de voz e de voto é do parlamenta­r. Se perdermos isso, teremos perdido 95% da democracia”, acrescento­u o presidente da Câmara.

Os comentário­s surgem após Lira ter sido obrigado a adiar, anteontem, a votação da PEC no plenário da Câmara dos Deputados. Sem acordo com os partidos, criticado no Supremo e pressionad­o nas redes sociais, ele decidiu que a proposta passará, primeiro, pelo crivo de uma comissão especial.

Por limitar as situações em que os parlamenta­res podem ser presos e proibir o afastament­o do mandato por ordem judicial, a proposta foi apelidada por “PEC da Blindagem” nos corredores de Brasília.

Lira, no entanto, afirmou

“Não pudemos regulament­ar este artigo, para dar um caminho, porque o Congresso errou em não regulament­ar. Tem que discutir um caminho, para que haja punição exemplar.”

Arthur Lira (Progressis­tas-AL) PRESIDENTE DA CÂMARA

que, ao manter a prisão de Silveira, a Câmara deixou claro que não existe “imunidade ilimitada”. “A imunidade parlamenta­r não é plena. Ela tem limites. E quando os limites ultrapassa­m a linha da democracia, do respeito às instituiçõ­es, do respeito ao funcioname­nto do País – ele (Silveira) teve a votação da Casa para manter a sua prisão.”

O presidente da Câmara também criticou os apelidos que a

PEC vem recebendo. “Não houve ‘PEC da Blindagem’, ‘PEC da Impunidade’. Ali a gente prevê prisão preventiva”, declarou.

Impeachmen­t. Durante o evento virtual, Lira afirmou ainda que não teve “tempo nem oportunida­de” de se debruçar sobre os pedidos de impeachmen­t do presidente Jair Bolsonaro que estão na Casa. Segundo ele, outros assuntos foram tratados nas primeiras semanas em que comandou a Câmara, neste mês. “Tivemos a primeira semana de acomodação. Tivemos a semana de votação da autonomia do BC. E tivemos a votação sobre o Daniel Silveira”, listou.

Ao mesmo tempo, Lira lembrou que o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) teve aproximada­mente cinco anos para analisar os pedidos de impediment­o, que já são dezenas. “Se Maia não abriu nenhum processo de impeachmen­t, ele não viu motivo”, disse. “Vamos analisar no momento adequado.”

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REPRODUÇÃO YOUTUBE Virtual. Arthur Lira durante evento do Grupo Prerrogati­vas

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