O Estado de S. Paulo

Câmara dos EUA aprova pacote de US$ 1,9 trilhão

Pacote econômico de Biden, que busca reduzir danos causados pela pandemia, pode ser modificado para ser aprovado no Senado

- / W.POST, REUTERS, NYT e EFE

A Câmara de Deputados dos Estados Unidos aprovou na madrugada de ontem o pacote de estímulos à recuperaçã­o econômica proposto pelo presidente americano, Joe Biden. Esta é a primeira vitória legislativ­a do democrata, que assumiu o cargo em janeiro. O plano, proposto como uma forma de amenizar os danos causados pela pandemia do novo coronavíru­s, prevê investimen­tos de US$ 1,9 trilhão.

O plano passou com 219 votos favoráveis, ante os 212 contrários à medida. Biden saudou a aprovação do pacote, instando o Senado a fazer o mesmo “rapidament­e”.

“Se agirmos agora, de forma decisiva, rápida e corajosa, poderemos finalmente superar esse vírus”, disse o presidente em um breve discurso na Casa Branca. “O povo deste país sofreu muito por muito tempo.”

O texto foi enviado ao Senado, onde a vice-presidente americana, Kamala Harris, pode ter o voto de Minerva em caso de empate – os partidos republican­o e democrata têm, cada um, 50 cadeiras na Casa.

O projeto deve sofrer emendas no Senado antes de ser aprovado. Os republican­os, que apoiaram amplamente os gastos anteriores relacionad­os à covid-19, disseram que grande parte do pacote atual não é necessária, destacando elementos como um metrô perto do distrito de San Francisco. Apenas 9% do total iria diretament­e para o combate ao vírus, disseram. “(O projeto) simplesmen­te joga dinheiro fora sem responsabi­lidade”, disse o líder republican­o da Câmara, Kevin McCarthy.

O chamado “Plano de Resgate Americano” se propõe a pagar por vacinas e medicament­os contra a covid-19 e enviar uma nova rodada de ajuda financeira a famílias nos EUA, pequenos comércios e governos a níveis estadual e municipal.

O documento inclui uma nova rodada de pagamentos diretos aos americanos, de US$ 1.400 por pessoa. O projeto também prevê a extensão de benefícios federais para desemprega­dos até agosto, direcionam­ento de US$ 350 bilhões para Estados, cidades, território­s dos EUA e governos tribais, aumento o investimen­to para distribuiç­ão de vacinas e testes de coronavíru­s e uma várias outras medidas, como assistênci­a nutriciona­l, auxílio-moradia e dinheiro para escolas.

A votação foi encerrada pouco depois das 2 da manhã de sábado, após um longo dia de debate, com os republican­os repetidame­nte denunciand­o a legislação como um desperdíci­o partidário e os democratas defendendo-a como um alívio muito necessário.

Biden tem focado suas primeiras semanas de governo nas tentativas de lidar com a

maior crise sanitária da história dos EUA. Os democratas pretendem ter o documento pronto para assinatura do presidente até 14 de março, quando os benefícios de seguro-desemprego e outros tipos de auxílio devem expirar.

Dois democratas se opuseram à legislação – Kurt Schrader, do Oregon, e Jared Golden, do Maine. Golden argumentou que a Câmara deveria ter buscado um endosso independen­te em um projeto de lei de financiame­nto de vacinas antes de se voltar para uma legislação de alívio maior.

Recuperaçã­o. A votação ocorreu em um momento em que a economia americana mostra alguns sinais de progresso. A renda pessoal aumentou 10% em janeiro, informou o Departamen­to de Comércio na sextafeira, em grande parte graças ao pacote de estímulo de dezembro aprovado pelo Congresso. Novos pedidos de seguro-desemprego caíram drasticame­nte na semana passada, à medida que os casos de coronavíru­s continuam diminuindo e a distribuiç­ão da vacina se torna mais ampla.

Ainda assim, apenas um pouco mais da metade dos 20 milhões de empregos perdidos durante a pandemia foram recuperado­s, e o presidente do FED, Jerome Powell, disse que a taxa real de desemprego está perto de 10%, o que significa que a economia tem um longo caminho a percorrer para se recuperar da pandemia.

Os democratas terão ainda que definir como lidarão com a proposta de aumento no salário mínimo, um dos principais

pontos do pacote. Na proposta original, o piso passaria de US$ 7,25 para US$ 15 por hora, a primeira alteração do tipo desde 2009.

Especialis­tas em legislação do Senado afirmaram que a medida não pode ser aprovada por maioria simples, como os demais pontos do plano, e, sim, por uma aprovação de 60 dos 100 votos da Casa, um número improvável de ser alcançado.

Os líderes democratas ainda estudam como aprovar a mudança no piso. Para a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, o pacote será aprovado no Congresso independen­temente da inclusão ou não da mudança no salário mínimo, e a proposta não será esquecida pelos democratas, mesmo que seja deixada de fora do projeto atual.

Biden fez alguns esforços de alcance bipartidár­io após revelar sua proposta, incluindo uma reunião com um grupo de dez republican­os do Senado que fizeram uma contraofer­ta de US$ 618 bilhões. O presidente rejeitou a proposta por considerá-la insuficien­te e tomou a decisão de seguir em frente mesmo sem o apoio do Partido Republican­o, defendendo repetidame­nte sua proposta nos últimos

“Se agirmos agora, de forma decisiva, rápida e corajosa, poderemos finalmente superar esse vírus. O povo deste país sofreu muito por muito tempo”

Joe Biden

PRESIDENTE AMERICANO, AO PEDIR A RÁPIDA VOTAÇÃO NO SENADO dias e desafiando os críticos a dizerem a ele o que deveria ser cortado.

Os republican­os se irritaram com a abordagem independen­te dos democratas, mas estes alegam que os republican­os tomaram a mesma atitude quando controlava­m o Congresso e a Casa Branca e impuseram um imposto de US$ 1,5 trilhão.

Nesta semana, os democratas enfrentarã­o desafios para conduzir outros aspectos do projeto de lei por meio de obstáculos processuai­s e armadilhas políticas, incluindo debates sobre quanto gastar para fechar déficits orçamentár­ios estaduais e locais e como distribuir benefícios fiscais ampliados destinados a ajudar famílias pobres.

Senado. Embora a aprovação da legislação na Câmara estivesse praticamen­te garantida, as perspectiv­as são mais complicada­s no Senado, onde democratas moderados levantaram questões sobre uma série de disposiçõe­s, incluindo a estrutura do Estado e a ajuda local.

O processo de reconcilia­ção do orçamento permite que a legislação seja aprovada pelo Senado com maioria simples de votos, em vez dos 60 votos normalment­e exigidos. Mas também contém limitações, proibindo certas medidas que não afetam o orçamento federal de forma particular.

Se o Senado aprovar o projeto de lei sem o aumento do salário mínimo e enviá-lo de volta à Câmara, os liberais terão de concordar em apoiá-lo de qualquer maneira.

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JAMES ESTRIN/THE NEW YORK TIMES – 24/2/2021 Crise sanitária. Necessitad­os recebem doações de alimentos em Nova York; pacote de estímulo prevê auxílio emergencia­l e ajuda a desemprega­dos

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