Obstáculos à recuperação do emprego
A queda da taxa de desocupação entre o terceiro e o quarto trimestres de 2020, de 14,6% para 13,9%, pode indicar alguma melhora do mercado de trabalho ao longo do segundo semestre do ano passado. Mas, ainda que positiva, essa evolução mostrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é insuficiente para caracterizar uma recuperação sustentável do nível de emprego. O quadro continua ruim.
O cenário sombrio não decorre apenas do fato de a taxa de desocupação no fim de 2020 ser a mais alta para o período em toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
As perdas foram “muito profundas”, observou a analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do
IBGE Adriana Beringuy, advertindo que a reversão levará tempo. E ainda dependerá da eficácia das medidas de controle da pandemia de covid-19 e da evolução da atividade econômica. Nos dois casos, as perspectivas estão longe de ser animadoras.
Parte significativa das pessoas em idade e em condições de trabalhar deixou de procurar ocupação durante certo período por falta de oportunidades e, por isso, foi excluída da força de trabalho (soma de pessoas ocupadas e desocupadas). Mas foi excluída também do contingente de desocupados. Essa dupla exclusão empurra para baixo a taxa de desocupação.
Mesmo assim, a taxa média anual de desocupação subiu de 11,9% em 2019 para 13,5% em 2020. Mantido o contingente na força de trabalho, isso significaria um aumento entre 1,5 milhão e 1,8 milhão de desocupados. Mas, em um ano, a população ocupada encolheu em 8,373 milhões de pessoas.
A taxa de desocupação não aumentou na mesma proporção porque o número de pessoas em condições de trabalhar, mas que, por não procurar ocupação, passou a fazer parte da população inativa, aumentou em 10,828 milhões.
A redução em 4,706 milhões no número de trabalhadores informais entre 2019 e 2020 poderia sinalizar melhora da qualidade do trabalho. Mas o que ocorreu foi a “perda de ocupação propriamente dita e não transição na forma de ocupação do mercado de trabalho”, ressalta Adriana Beringuy.
A crise está afetando mais o mercado informal, em geral com remuneração média inferior à do mercado formal. Ela é pior para quem ganha menos e tem menos proteção legal.