‘O PROBLEMA É A DÍVIDA QUE FICOU PARA TRÁS’
Lutador voltou a SP em março de 2020 para recomeçar – e foi surpreendido pela covid-19
Depois de passar pouco mais de um ano em Porto Seguro, na Bahia, o lutador profissional Ravy Bruno Brunow, 32 anos, começou 2020 com uma missão: refazer a vida financeira – e também a afetiva. Com esse objetivo, usou os dois primeiros meses do ano para se organizar: atuando paralelamente como personal trainer há anos, reuniu quatro alunos para voltar para São Paulo já com alguma renda.
Foi com a perspectiva de construir um leque de clientes a partir dos alunos que já reunira que ele desembarcou em Guarulhos em 15 de março. Dias depois, começaria o período de quarentena e todos cancelariam os planos de começar a lutar muay thai. Sem renda e sem ter como pagar aluguel, Ravy acabou resgatado por amigos que tinham um quarto disponível anexo a um salão de beleza que fechara as portas por causa da pandemia. “Esse casal me ajudou muito”, lembra.
Além de ceder o quarto para que ele tivesse onde morar, os
amigos começaram a fazer aulas, já que estavam convivendo com ele durante o isolamento. Por alguns meses, tudo o que ele tinha para viver era R$ 1,5 mil. Com o auxílio emergencial destinado a autônomos, essa conta ganhou mais R$ 800.
Além disso, um antigo patrocinador dos tempos em que Ravy dominava os ringues – chegou a ser campeão brasileiro e pan-americano da categoria peso leve – retomou a ajuda de custo: outros R$ 800 começaram a entrar na conta. Nessa época, porém, teve de procurar um apartamento para morar. Mais uma vez, conseguiu um bom negócio, pagando um aluguel de R$ 600. Mesmo assim, seguia com as finanças apertadas.
Sobe, desce. Pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ravy passou a maior parte de 2020 na classe D, com renda familiar total abaixo de R$ 4,2 mil por mês. No entanto, sua sorte começou a mudar a partir de julho, com o ressurgimento dos alunos.
Enquanto tentava sair do buraco financeiro, acabou voltando com a esposa. Em setembro, voltaram a morar juntos e ele se mudou para Atibaia, a 60 km de São Paulo. A partir do “boca a boca” e da reação das pessoas que assistiam a vídeos postados no Instagram, o lutador viu a carteira de clientes se ampliar e, em novembro, chegou a uma renda de R$ 7 mil. Foi o suficiente para colocar os dois pés na classe C, que abarca a população com renda de até R$ 10,4 mil mensais.
O problema, porém, é que se tratou de uma ascensão frágil. Em dezembro, sofreu um novo baque: os alunos tiraram férias e ele se viu com um rombo de R$ 3 mil nas contas de casa. Por pouco não teve de pegar empréstimo em banco – acabou sendo resgatado, mais uma vez, por amigos para evitar os juros altos. “Hoje, o que eu ganho dá para as minhas contas, mas o problema é o que ficou para trás, no cartão de crédito e no limite (do cheque especial) do banco.”
Com a meta de pôr as contas de vez em dia, iniciou um novo empreendimento: um canil da raça american bully. Com uma ninhada de seis filhotes prestes a completar o desmame, ele diz que a venda de dois, a cerca de R$ 4 mil cada, vai permitir acertar a vida financeira e olhar para o futuro. Uma vez que a balança esteja equilibrada, pretende iniciar uma planilha de gastos – pela primeira vez na vida.