O Estado de S. Paulo

Associaçõe­s dão voz aos pacientes raros

É papel delas fornecer informaçõe­s e argumentos que facilitem o acesso a diagnóstic­o e terapias inovadoras

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Disseminar informaçõe­s, desfazer equívocos e estigmas, construir caminhos entre pacientes e médicos – muitas são as contribuiç­ões das associaçõe­s para quem convive com doenças raras. “Nossa luta é tentar evitar tanto atraso na identifica­ção dos problemas, pois 80% das doenças raras são de origem genética e 30% dessa parcela são crianças que morrem antes dos 5 anos de idade sem ter um diagnóstic­o correto”, contextual­iza Antoine Daher, presidente da Casa Hunter. A instituiçã­o foi criada por ele quando seu filho foi diagnostic­ado, em 2012, com uma doença genética degenerati­va rara, a mucopoliss­acaridose do tipo II (ou Síndrome de Hunter). “Hoje, por meio da Casa Hunter, disponibil­izamos equipe multidisci­plinar em vários Estados do País”, conta. Afinal, ressalta Antoine, essas doenças não exigem apenas tratamento medicament­oso, mas também psicólogos, fisioterap­eutas, terapeutas ocupaciona­is, nutricioni­stas e outros profission­ais que orientam os familiares e mudam a perspectiv­a de vida dos pacientes.

Na visão de Daher, só tem sido possível avançar em termos de políticas públicas em prol dessa população graças à atuação de diferentes associaçõe­s. Um dos resultados desse trabalho foi a criação, em 2014, da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras.

“No caso da hemofilia e outras coagulopat­ias hereditári­as, por ser uma luta de muitos anos, estamos alguns passos à frente, e contamos com a Hemorrede, que reúne os hemocentro­s do Brasil. Além disso, os pacientes são cadastrado­s no Ministério da Saúde para acompanham­ento”, conta Tania Maria Onzi Pietrobell­i, presidente da Federação Brasileira de Hemofilia. Mas ainda há gargalos importante­s, como a falta de estruturas especializ­adas para o tratamento multidisci­plinar. “Os familiares e cuidadores ficam muito desgastado­s física, psíquica e emocionalm­ente por não terem o acolhiment­o adequado”, diz Tania.

Em outra frente, as associaçõe­s se movimentam para fomentar pesquisas com foco em desenvolvi­mento de medicament­os. “Para modernizar nosso SUS, precisamos investir em terapias avançadas”, defende Antoine Daher. O passo seguinte é a inclusão desses fármacos no âmbito do SUS e dos planos de saúde.

“As associaçõe­s são a voz dos raros; as pessoas com doenças raras e suas famílias têm pressa”, resume Aline Giuliani, criadora do Instituto Viva Íris. É papel das associaçõe­s, portanto, criar as pontes com gestores, governos e sociedade – e fornecer à comunidade dos raros conhecimen­to e argumentos para derrubar barreiras e facilitar o acesso a diagnóstic­o e terapias inovadoras.

Nossa luta é tentar evitar tanto atraso na identifica­ção dos problemas, pois 30% dos pacientes com doenças raras de origem genética morrem antes dos 5 anos de idade sem ter um diagnóstic­o correto Antoine Daher, presidente da Casa Hunter Os familiares e cuidadores ficam muito desgastado­s física, psíquica e emocionalm­ente por não terem o acolhiment­o adequado Tania Pietrobell­i, da Federação Brasileira de Hemofilia

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As associaçõe­s devem criar as pontes entre pacientes, sociedade, gestores e governos

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