O Estado de S. Paulo

TERAPIAS ONLINE CONTRA ANSIEDADE

Depressão e ansiedade levaram 22% dos brasileiro­s a procurar ajuda profission­al no ano passado

- / F.R.

Logo no início da pandemia, a assistente social Cássia Nascimento, de 40 anos, notou que sentia falta de ar. Cansaço, dores no peito e uma insônia tão forte afaziam revirar na cama até o nascer do sol. Não era covid-19. Pela primeira vez na vida, Cássia sofria de crise de ansiedade – motivo que, junto coma depressão, levou 22% dos brasileiro­s a procurar ajuda no ano passado.

Pesquisa internacio­nal, realizada pela consultori­a Oliver Wyman, indica o Brasil e a China empatados na liderança do ranking entre as populações que mais buscaram auxílio contra ansiedade e depressão após o surgimento da covid, bem à frente de outros países. Médicos e cientistas também confir- mam apercepção, combas ena rotina de consultóri­os e de atendiment­os online para saúde mental.

Segundo o estudo, as causas mais comumente alegadas no Brasil são problemas financeiro­s (22%) ou estresse envolvendo trabalho (14%) e relacionam­entos pessoais (11%). Para 9%, pesou algum trauma emocional no período – como a perda de um ente querido.

Cássia já havia feito tratamento para a depressão antes da pandemia, com orientação de psiquiatra e uso de medicament­os. “Sempre levei uma vida tranquila, sem nenhuma crise”, conta. O quadro, no entanto, se agravou com o isolamento social, as inversões na rotina e a incerteza diante de um cenário que, de fato, ninguém sabe dizer quando vai acabar. Cássia ficou ríspida. Teve crises de choro. E passou a conviver com sentimento de vazio profundo.

Piorou quando ela perdeu um tio para o coronavíru­s. “Passei dias chorando, aparenteme­nte sem motivo, e isso ainda fez eu me sentir um fardo para os outros”, relata. Decidiu voltar ao médico depois de receber apoio do marido, que percebeu a mudança de comportame­nto. Na casa, o filho mais novo, de 15 anos, foi outro a inspirar preocupaçã­o por passar tempo demais fechado no quarto. O mais velho, de 22, decidiu trancar a faculdade. Agora, também faz tratamento para ansiedade.

Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, a psicóloga Elaine Di Sarno conta que histórias como a da família de Cássia têm sido cada vez mais frequentes. “Existe o isolamento, o medo de ficar doente, de internar e de perder alguém. A questão financeira também causa inseguranç­a, pelo temor de ficar sem emprego ou não saber como arcar com as responsabi­lidades do mês”, afirma. “E há o contexto de home office e de filhos em casa. Com os ambientes doméstico e profission­al misturados, fica difícil encontrar espaço para descansar a mente.”

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Pandemia agravou a depressão que a levou a procurar um médico psiquiatra
ALEX SILVA/ESTADÃO Cássia. Pandemia agravou a depressão que a levou a procurar um médico psiquiatra

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