O Estado de S. Paulo

Hamas lança foguetes e Israel responde com ataques aéreos

Barril de pólvora. Despejo de famílias palestinas de bairro árabe de Jerusalém Oriental e blitz na mesquita de Al-aqsa, um dos locais mais sagrados do islamismo, provocam onda de violência; segundo grupo islâmico, ação israelense deixa 20 mortos, 9 deles

- JERUSALÉM

O conflito entre a polícia israelense e manifestan­tes palestinos, ampliado ontem em torno da mesquita de Al-aqsa, em Jerusalém, se espalhou pela região. Militantes islâmicos dispararam foguetes da Faixa de Gaza contra Israel, que reagiu com ataques aéreos. Segundo o Hamas, grupo radical palestino que governa Gaza, houve 20 mortes, sendo 9 crianças.

O conflito entre a polícia israelense e manifestan­tes palestinos em Jerusalém se espalhou ontem para outras partes da região. Militantes islâmicos dispararam foguetes da Faixa de Gaza contra Israel, que respondeu com ataques aéreos. Segundo o Hamas, grupo palestino que governa Gaza, 20 pessoas morreram, incluindo 9 crianças. O fogo cruzado se intensific­ou logo pela manhã, após uma blitz policial na mesquita de Al-aqsa, um dos locais mais sagrados do Islã, que deixou centenas de feridos.

O mais recente conflito é movido por diferentes fatores. Primeiro, a decisão de expulsar três famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, na parte oriental de Jerusalém, para devolver as casas para judeus que eram proprietár­ios dos terrenos antes da Guerra Árabe-israelense, de 1948.

No início do ano, um tribunal deu ganho de causa aos colonos judeus. No domingo, a Suprema Corte, que deveria decidir a questão, adiou o julgamento, que deve ser remarcado em 30 dias. Desde sexta-feira, centenas pessoas ficaram feridas em confrontos entre manifestan­tes palestinos e policiais israelense­s em Jerusalém.

Outro ponto de tensão é a celebração do Dia de Jerusalém, aniversári­o da ocupação israelense da parte oriental da cidade, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967 – uma anexação que a maioria dos países do mundo não reconhece. Grupos de extrema direita de Israel marcaram uma marcha nacionalis­ta, que estava programada para cruzar ontem o Bairro Muçulmano, na Cidade Velha, o que foi considerad­o uma provocação.

Em uma tentativa de evitar mais confrontos, autoridade­s israelense­s mudaram de última hora a rota planejada da marcha, mas a medida não conteve a escalada dos protestos, que se espalharam rapidament­e para outras partes do país.

Ao clima de tensão foi potenciali­zado também pelo mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã, que começou em 12 de abril e termina hoje – um período normalment­e marcado por protestos. Durante a manhã de ontem, mais de 300 pessoas ficaram feridas quando a polícia israelense invadiu a Esplanada das Mesquitas. Nove policiais foram feridos, segundo Israel.

A Autoridade Palestina denunciou a blitz policial como uma “agressão bárbara” por parte das forças israelense­s. Em Gaza, o Hamas emitiu um ultimato, exigindo que Israel retirasse a polícia da mesquita de Al-aqsa até as 18 horas (12 horas em Brasília). Vencido o prazo, os foguetes começaram a voar na direção do território israelense – causando danos em casas e plantações.

A resposta de Israel foi rápida. O primeiro-ministro do país, Binyamin Netanyahu, disse que “terrorista­s” passaram do limite ao promover os disparos. “Israel responderá com muita força. Não toleraremo­s ataques em nosso território, em nossa capital, a nossos cidadãos e aos nossos soldados. Quem nos atacar pagará um preço alto”, afirmou Netanyahu.

A violência uniu governo e opositores, normalment­e críticos ao premiê. “O terrorismo palestino deve ser combatido com punho de ferro”, disse o ministro da Defesa, Benny Gantz. Yair Lapid, desafeto de Netanyahu e incumbido de negociar uma nova coalizão, pediu uma “ação firme e decisiva para restaurar o pode de dissuasão de Israel”.

O Hamas confirmou ter lançado mais de 100 foguetes contra Israel. Autoridade­s palestinas em Gaza informaram que 65 pessoas ficaram feridas nos ataques aéreos. O saldo transformo­u o dia de ontem no mais violento desde 2017, disparando o alarme em várias capitais do mundo.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que os ataques com foguetes de Gaza contra Israel deveriam parar “imediatame­nte” e pediu aos dois lados que tomem medidas para diminuir a situação. “Todos precisam diminuir a escalada, reduzir as tensões, tomar medidas práticas para acalmar as coisas”, afirmou o chefe da diplomacia americana.

O Conselho de Segurança da ONU, a pedido da Tunísia, foi convocado para um reunião de emergência para discutir a situação em Jerusalém. A pressão internacio­nal para que Israel cancele os despejos das famílias palestinas de Sheikh Jarrah vem também de Canadá, África do Sul, Rússia, Turquia, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Bahrein.

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MAHMUD HAMS / AFP Conflito. Ataques aéreos israelense­s na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, que havia disparado foguetes contra Israel: tensão aumenta na região

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